Na busca de um colega homônimo, que também trabalha com audiovisual, é possível que tenha parado aqui depois de pesquisar no Google pelo nome “João Inácio” mas não, não sou o que tem um programa de auditório repleto de “tigresas”. Na verdade, como meu nome é bem comum já até pensei em adotar o nome como atualmente muitos me chamam no meio cinematográfico (JI), mas fazer isso à essa altura da vida é complicado. Enfim, meu nome completo é João Inácio Neto e de um total de dez sou o sexto filho do relojoeiro João Inácio Filho e de dona de casa Laura Maria Inácio. Nasci na cidade de Bonito, no agreste pernambucano, no dia 17 de agosto de 1961. Lembro-me de poucos contecimentos desde o nascimento até os oito anos. Dos que me recordo está o fato de que sonhava ser duas coisas: soldado e cientista. Soldado, porque queria ser igual ao meu irmão mais velho. Já ser cientista, talvez tenha sido porque ele me deu de presente um mini laboratório (o nome era “Pequeno cientista”) e eu passava horas a fio misturando as mais loucas soluções. Imagino que foi isso que despertou um senso investigativo em mim. Dentre as muitas situações curiosas ficava intrigado sobre como nas telas da TV de casa e do cinema as pessoas se mexiam. E foi assim que inicialmente tentei desvendar esse mistério.
Observe essa foto. Bem, agora que você parou de rir, atente pros 3 pontos destacados pra entender a que ponto cheguei:
1 – Cortei o fio da antena da TV de casa e o coloquei dentro de um coador de café. Pena, nada saiu do fio. Não, os homenzinhos da TV não ficaram lá dentro do coador. Virei o objeto pra ver o que caía no chão mas para minha surpresa e decepção havia apenas restos de borra de café;
2 – Na TV haviam frestas laterais pra dissipar o calor interno (as válvulas das televisões esquentavam muito). Já que os tais homenzinhos não vinham pelo fio da antena “quem sabe eram inseridos dentro da TV”, pensei. Recortei pedaços de revista e os inseri pela abertura… e também não deu certo. A fumaça alertou minha mãe que logo se surpreendeu com a borra de café no chão e de um modo peculiar demonstrou que não gostou nem um pouco das minhas experiências. Disso eu me lembro bem, tanto quanto as válvulas da TV meu bumbum também esquentou.
E o item 3? Imaginação! Descobri que esse era o método mais seguro (e menos doloroso) para resolver esses e outros tantos dilemas típicos da idade.
Até que um dia cruzou em minha vida um cidadão sem igual. Um simples professor de geografia cujo apelido era “José Telegrafista”, para que um mundo novo surgisse em meus horizontes. Coube a ele me mostrar que um pedaço de película cinematográfica poderia ser projetado numa parede para ganhar cores na imaginação de muitos. Meu professor fez para mim o que hoje chamaríamos de um “projetor de slides” mas bem rudimentar (uma caixa de madeira com uma tábua furada no meio, onde eu colocava os pedaços de “fita”, uma lâmpada no fundo e um buraco na extremidade oposta. A lente? Ah, sim, era uma lâmpada cheia de água). Por sorte, eu era amigo e estudava com o José Carlos, filho do único cinema da cidade onde todas as sessões de matinée eram interrompidas pelas quebras das películas (só era exibido no cinema de Bonito o que já havia sido projetado em todo mundo). Eu trocava com esse meu amigo os pedaços das películas que sobravam das emendas por vidrinhos que meu pai descartava quando trocava os vidros dos relógios de seus clientes. José Carlos queria os objetos porque eram excelentes jogadores de botão e eu precisava de imagens para minhas sessões de cinema… simbiose perfeita! Pronto, bastava reunir na sala de casa os amigos da rua, cobrava pela sessão (cinema é dinheiro!) e juntos construíamos histórias à partir dos trechos de filmes que aleatoriamente projetava. Foi assim que comecei a aprender a escrever roteiros.
O tempo passou, e aos poucos o que um dia havia sido brincadeira de criança, por força dos estudos de publicidade, e aos poucos cinema, começou a tomar forma. Como num filme, voemos para o ano de 1998. Calma, ao ler as outras áreas aqui do site você vai compreender tudo que aconteceu nesse ínterim. Como disse, estudava publicidade e houve uma mostra de arte na faculdade. Em paralelo resolvi estudava computação gráfica e edição com o Prof. Marcelo Molina, e até me arvorei em produzir meu primeiro filme “Delírios Trêmulos de um Hebreu Nordestino”. Era pra lá de experimental, mas culminou por também ser apresentado na mostra de vídeo da faculdade CEUB onde esse meu professor fazia a curadoria pra uma mostra de cinema. Ainda na faculdade, em 2001, juntamente com Christian Dantas, Karina Lobo e Wilson Albuquerque, produzimos o documentário “O Resto do Mundo.
Em 2003 fui estudar inglês no outro lado do mundo, em Auckland, na Nova Zelândia, e lá aconteceu um fato que mudou minha vida. Desenvolvi uma boa amizade com a família com quem fui morar e tanto eles quanto eu éramos aficcionados em cinema. Susa Crozier, a dona da casa, conhecia a vice-reitora da Universidade de Auckland onde na época havia um badalado curso de cinema por causa do filme O senhor dos anéis que há pouco havia sido lançado naquele país e em todo o mundo. Naqueles dias não se falava noutra coisa que não fosse o êxito do diretor neozelandês Peter Jackson. Despretensiosamente um dia comentei que já havia pensado em ser cineasta, que já havia produzido pequenos filmes mas percebia que julgava que o tempo disto já havia passado para mim. Ela me perguntou se eu não tinha interesse em conversar com essa sua amiga e me pediu um pequeno resumé com minhas realizações. Julguei que seria uma ótima chance de treinar o inglês e lá fui eu. Fiquei surpreso quando ouvi dela algo como “nossa, você tem muito talento! Você já fez tudo isso com essa idade? Queremos te ajudar a vir estudar aqui.”. Quando respondi que me sentia velho pra pensar em cinema profissionalmente àquela altura da vida ela de pronto retrucou “João, observe como muitos dos grande cineastas despontaram depois dos 60”. Irônico, eu me achando velho e ela me dizendo que aos 41 estava engatinhando. Criei coragem para mudar de rumo, mas não fui insensato de largar a carreira que tinha pra me aventurar noutra como se tudo fosse fácil. Assim, paradoxalmente, enquanto progredia na empresa que trabalhava paralelamente estudava… e estudava muito. Qualquer chance que tinha, lá ia eu pra São Paulo fazer cursos de roteiro, computação gráfica, direção de arte, etc e etc. Comecei e nunca parei. Da cadeia cinematográfica só me falta fazer o curso de maquiagem (está na agenda). Entendi que se no futuro aquela seria minha profissão precisaria ao menos compreender toda cadeia produtiva para saber adequadamente saber conversar com os profissionais envolvidos em um filme.
Não podia ter tomado decisão melhor. Claro, agora, cheio de segurança, e a velha cara de pau, passei a produzir desenfreadamente. Ainda na NZ, conheci a jornalista Gisah Batista e juntos fizemos o documentário “Fé & Fama”, sobre a vida do jogador neozelandês de rugby Ali Lauit’iti. Como são as coisas… acho que esse foi o auge das minhas produções no estilo guerrilha. Por providência divina conheci um cara genial, Tony Fuiava, que me apresentou esse jogador e eu nem imaginava que naquele lado do mundo ele seria equivalentemente a um jogador nosso do tipo Zico, Neimar, etc. Como nada tinha a perder e precisava de conteúdo pro programa Janela para a vida que já dirigia (leia a área “Audiovisual” aqui no site), mesmo sem saber de sua fama, perguntei pro Tony se poderia fazer um documentário sobre sua vida dele e ele topou. E lá fomos eu e a Gisah entrevistar o Ali Lauit’iti e os demais jogadores… no dia em que recebiam a imprensa mundial (rsrsrsrs). Imagine a cena: os caras com equipes e equipamentos profissionais e nós com uma filmadora Digital 8, um tripé de máquina fotográfica (com uma perna emperrada), um microfone de mão pra lá de meia boca e um headphone que só funcionava de um lado. Hilário. Mas o documentário saiu e, pasme, foi o primeiro documentário sobre esse conhecido jogador. Matérias jornalísticas sobre ele haviam aos montes, mas documentário, mesmo que rudimentar, foi o primeiro. Quando o concluí enviei uma cópia para a Helen Clark, à época 1a. Ministra da Nova Zelândia, e dela recebi uma carta agradecendo minha atitude e iniciativa. Dada as condições aquele não foi o meu melhor trabalho, mas era o que de melhor podia fazer.
De volta ao Brasil, como no coração havia tomado a decisão de mudar de rumo, precisava realizar mais. Produzi um pequeno filme (Monólogo de um pescador) e com ele recebi o prêmio Especial do Júri no VII Festicurtas, em Brasília, promovido pela Igreja Batista. O programa Janela para a Vida me demandava conteúdos e em 2006 produzi e dirigi o média documentário Sal da Terra, sobre a história do grupo homônimo. Ainda pra suprir as necessidades do programa, em 2008 fiz outro média documentário “Navegando nas Águas de Deus”. Nesse mesmo ano também produzi o média documentário Naoum e em 2007 fui convidado para produzir o DVD da banda Expresso Luz que nessa época comemorava os seus 20 anos de existência. Ah, nesse interim produzi os curtas documentários “Tributo de Gratidão”, “Instituto Reciclando Sons” e o clipe “Palavras que amparam” para o músico Edilênio Souza. Um convite irrecusável recebi em 2010, para gravação do DVD comemorativo de 25 anos de existência da Banda Raízes. Para mim, a maior dificuldade foi separar o lado “fã” do profissional. Esse trabalho não apenas me propiciou documentar a história de uma das principais bandas do país como também, num certo sentido, relembrar parte da minha própria história pois estive presencialmente na maioria dos momentos desses meus amigos. Constou também do DVD meu primeiro roteiro pra um clipe de animação (Sl 148) que produzi com animador Lemuel Massuia.
As produções e ideias se intensificavam e Cinema era o que ocupava minha mente. Por isso, decidi por respirar novos ares. Em 2010 interrompi minha carreira como executivo na empresa onde trabalhava e comecei minha própria produtora, a Imaginação Filmes e Artes Audiovisuais. Precisava me afirmar como cineasta e por isso e apostei alto. De imediato comecei a produzir meu primeiro longa-metragem que acabou por nascer em 2012. O resultado foi muito melhor do que esperava. Além de ganhar os prêmios de “menção honrosa” no festival Curta Amazônia e melhor longa documentário no Vercine, o filme Truks obteve bons espaços de exibição em festivais no Brasil e em várias partes do mundo. Foi o único filme brasileiro exibido num tradicional festival da Grécia, participou de festivais na Suíça, Colômbia, Uruguai e China, e também muitos outros festivais dentro do país. Com Truks fui convidado para ir à China e participar do DocBrazil Festival, onde também tive a chance de ministrar um workshop “Documentário – da criação à produção”.
Ainda na China, conheci o grupo musical brasileiro Soul Mundo que estava em excursão por Xangai. Tudo deu certo e na 5a maravilha do mundo, na Muralha da China, produzi um clipe para eles. Foi bem legal ver os chineses admirados ao ver brasileiro tocando e cantando samba.
Pra completar a boa fase, além de inúmeros projetos de dimensões menores, também produzi um curta de ficção “As luzes de Benjela”, que no ano seguinte ganhou o prêmio especial do público na TAL (Televisão América Latina). Fui selecionado pelo Fundo de Apoio à Cultura do DF para produzir um novo curta (O tiro), produzi o DVD da cantora Thaíze Franco e no ano seguinte produzi o filme Carta da esperança que acabou por vencer o prêmio de melhor curta no festival “Curta Caxias”, no Rio de Janeiro. Por último, em 2018, fiz meu segundo longa-metragem, O mestre da cena, que narra a história do ator Gê Martu.
Como se não bastasse, enquanto realizava todas essas produções deu tempo de produzir três web séries para a ONG WWF-Brasil (#Somosamazonia, Histórias do Pacto e Moradores da floresta) além do curta documentário Chico Mendes – um legado a defender, com participação da atriz Lucélia Santos. Não satisfeito, o WWF me autorizou e tanto o filme do Chico Mendes quanto o que produzi à partir da websérie #SOMOSAMAZÔNIA começaram a ser inscritas em festivais de cinema e ambos foram selecionados na 52 Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, realizando assim um antigo sonho de ter um filme exibido em um dos principais festival do país. Pra fechar com chave de ouro, o Chico Mendes ganhou o prêmio Marco Antônio Guimarães que reconhece a excelência da pesquisa e uso de material histórico que serve para a perpetuação do cinema nacional.
Não dá pra dizer que parei por aí porque estamos a pleno vapor, enquanto Deus assim permitir.
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