Ao sabor do infinito – 2002
Escrito a quatro mãos, Ao Sabor do Infinito foi um romance de ficção científica que atuei como coadjuvante, pois a narrativa principal foi escrita pelo amigo José Francisco Monteiro. Na época, em 1979, éramos alunos do curso de técnico em química e tínhamos como diversão varar noites conversando sobre fatos que intrigam a humanidade (vida em outros planetas, vida após a morte, etc.). Claro, como adolescentes que éramos, não faltavam também papos sobre namoradas e tudo embalado ao som do KISS e Led Zepelin.
Fizemos “muitas viagens” sem nunca ter colocado qualquer tipo de drogas em nossos corpos. Nossos combustíveis eram apenas a imaginação e o prazer de desfrutar de uma boa amizade.
Aqui você encontrará, na íntegra, todos os capítulos. Essa viagem aconteceu ou foi apenas um devaneio de adolescentes? Leia o livro e tire suas conclusões.

Parte 1 - Primeiras impressões
Duque de Caxias, 09 de Julho de 1979.
SEI QUE AOS QUE LEREM estas linhas, ficarão dúvidas quanto à veracidade, mas aqui vai: daremos datas, locais e nomes que poderão comprovar estas palavras. Quanto a acreditar ou não ficará a encargo do leitor, e não nos preocuparemos com esse detalhe.
A maioria das coisas tem um começo, e aqui não foge à regra. O principio foi em algum dia perdido no mês de fevereiro, deste mesmo ano. As aulas iam começar, a rotina ia continuar e é normal que dois jovens amigos preocupem-se em fazer algo de novo, que preencha o tempo com algum fato diferente. Somos dois adolescentes, eu, José Francisco Monteiro e João Inácio Neto, estudantes de química e com muito espírito de aventura. Certa tarde discutíamos sobre o maior modificador que existe: o tempo
– O que é o tempo, afinal? – perguntou João.
– Em minha opinião – respondi – simplesmente é uma sucessão de fatos.
– E esses fatos ficam perdidos para sempre, desaparecem assim, sem mais nem menos? Afinal, são coisas reais, concretas e como já dizia o titio Lavoisier, nada é criado ou destruído, apenas se transforma…
– Concordo, mas se formos por esse caminho, teremos de chegar a um ponto que prove isto.
– E qual é o fator físico, droga, que acompanha essa sucessão de fatos? Se descobríssemos, talvez pudéssemos ter o tempo em nossas mãos.
– João, só existe uma coisa, que é a essência de tudo que é a matéria, e que nem o tempo pode mudar o seu estado: A luz.
Seguiu-se um silencio entre nós, como se aí estivesse a resposta para as nossas perguntas. Daí por diante, concentramos nossos esforços nesse ponto, pois chegamos a seguinte conclusão: Se a luz segue uma mesma direção, ou melhor, sentido, indefinidamente, o que aconteceria caso conseguíssemos mudar esse sentido para o inverso? Simples: aconteceria O que sucede com um filme rodado ao contrário; Os fatos regrediriam. Até aí nossas conclusões estavam certas, mas não contávamos com um fato que mais tarde nos surpreenderia muito, pois essa regressão influiria também na dimensão das coisas.
E foi assim que nós, dois jovens, tentamos fazer algo que talvez ninguém tenha sequer Imaginado em sonhos. O relato de nossos esforços, tentativas e fracassos consumiriam muito tempo, desnecessário assim. Em resumo, pela manhã nos encontrávamos, rabiscávamos folhas e nos tomamos fregueses regulares de lojas, que vendiam aparelhos eletrônicos usados, consultávamos livros e conversávamos com professores que até hoje não entendem o porquê das nossas perguntas.
Parte 1a - Primeiras impressões
Duque de Caxias, 02 de Março de 1979.
QUE DIA GLORIOSO! Foi a nossa primeira vitória contra um inimigo desconhecido. Em um tubo refratário, pusemos em uma de suas extremidades um feixe forte o e concentrado de luz em um sistema totalmente vedado. Sabíamos que essa luz levava a imagem de uma lâmina fina de um metal que também foi introduzido ao tubo para algum lugar.
Estremecemos ao ver através de uma lente, a luminosidade desvanecer e retomar ao projetor. Foi com as têmporas latejando que abrimos o tubo destruindo o trabalho que até então fizemos. João não disse nada, mas eu não me contive e quase gritei:
– Cadê a lâmina? Deus meu…
Parte 1A - Primeiras impressões
Duque de Caxias, 02 de Março de 1979.
QUE DIA GLORIOSO! Foi a nossa primeira vitória contra um inimigo desconhecido. Em um tubo refratário, pusemos em uma de suas extremidades um feixe forte o e concentrado de luz em um sistema totalmente vedado. Sabíamos que essa luz levava a imagem de uma lâmina fina de um metal que também foi introduzido ao tubo para algum lugar.
Estremecemos ao ver através de uma lente, a luminosidade desvanecer e retomar ao projetor. Foi com as têmporas latejando que abrimos o tubo destruindo o trabalho que até então fizemos. João não disse nada, mas eu não me contive e quase gritei:
– Cadê a lâmina? Deus meu…
Parte 1a - Primeiras impressões
D. Caxias, 05 de Março de 1979.
COMO AS HORAS DEMORAVAM a passar, até o momento em que podíamos nos encontrar em uma velha garagem, cada qual com várias folhas com esquemas e bolsas contendo peças que talvez fossem necessárias ao nosso empreendimento.
– Como foi hoje, João?
– Quase me traí, Monteiro. Eu pedi a um amigo, um circuito impresso para o nosso conversos de Luz, e ele me perguntou para que eu o queria.
– E você disse?
– Claro que não. Foi quase. Mas de qualquer forma ele. Iria pensar que fiquei louco, se contasse a verdade.
Esqueça. Hoje tive uma idéia sensacional, e trouxe um desenho para você ver.
Sentamo-nos é mesa, afastei alguns objetos que a enchiam mostrando-lhe uma folha na qual se achava desenhado um circulo enorme e vários outros desenhos no seu interior.
– Este circulo representa uma esfera, no interior da qual poderá ser montados todos os aparelhos de que necessitamos. As paredes, tanto internas como externas são intensamente polidas e refletem luz, e assim, todo o globo pode ser transportado quando acionarmos o inversos luminoso.
– Entendi.
Notei que meu amigo estava silencioso demais para ser aquele sujeito que fazia todos voltarem-se para ele com sua voz alta, que costumava ser.
– Em que você está pensando?
– Nada importante – respondeu – Monteiro, você já pensou em como seriamos famosos se patenteássemos nosso invento? Quem imagina o que pode existir um aparelho que consiga atrair uma coisa tão infinitesimal como um raio luminoso?
– Justamente por não imaginar, ó que ninguém o inventou. Nunca foi tentado a não ser por nós. Quanto a patenteá-lo, eu sou contra, já que depois ficarmos privados de ser também os primeiros viajantes do tempo.
Mal sabia eu que seríamos os primeiros, mas em outro tipo de viagem. Como eu mesmo disse, ninguém nunca imaginou, nem eu… Acho que passamos a ser diferentes de outros rapazes, pois passamos também a namorar fios, válvulas, transistores e coisas que o valham a gastar dinheiro com elas como gastarmos com uma pequena.
Parece improvável, mas nossa maior dificuldade foi criar as paredes do globo, já que elas deviam formar uma esfera perfeita e refletir Luz de modo que elas próprias fossem transportadas, juntamente conosco e nosso equipamento. Finalmente chegou aquele dia.
Parte 1C - Primeiras impressões
Duque de Caxias, 25 de Março de 1979.
FALTAVAM ALGUNS MINUTOS para o termino da aula, quando eu senti uma leve pancada um pouco acima do pescoço. Virei-me a tempo de ver uma bola de papel cair ao chão.
Duas filas atrás, João acenava, apontando para o solo, como querendo dizer “será hoje”? Não, talvez amanhã – respondi -mostrando uma folha onde tínhamos planejado tudo no dia anterior.
Eu estava excitado, que mal importei-me quando nosso professor chamou-nos a atenção e começou a traçar fórmulas no quadro-negro. Pela janela aberta, chegava-nos o som de um cão que ladrava insistentemente, e foi o bastante para que a turma começasse a se agitar, já que era a última aula do dia e todos esperavam impacientes que o sinal nos liberasse.
As letras e números que dançavam no quadro já não faziam muito sentido para qualquer um de nós. Percebendo isso, o professor deu por finda a aula e encaminhou para sua mesa, iniciando como que uma contagem regressiva ao pronunciar os números de chamada, no que era respondido por um “presente”.
Poucos minutos depois, um sinal estridente se fez ouvir, mas um olhar de esguelha do professor advertiu-nos de que esperássemos o final da chamada, e entre cada “presente”, se faziam ouvir os inevitáveis ruídos de cadeiras arrastando-se nervosamente. Quando pronunciou o último número, ele lançou um sorriso de aprovação. Em menos de um minuto, só restava ele na sala… e ainda pude vê-lo balançar a cabeça e rir, talvez lembrando seus “velhos tempos.
Senti uma sensação estranha ao passar do calor aconchegante de nosso colégio para desfrutar de uma brisa leve e gelada que embaraçava meus cabelos e dava a impressão de mil alfinetadas. Comecei a correr mesmo sabendo que outro dia não chegaria mais depressa. E realmente não chegou.
Conforme se aproximava ao momento decisivo, nascia uma apreensão da qual eu não conseguia extrair as raízes. Não foram poucas as vezes que abri os olhos durante a noite e só vi pontos luminosos bailando ao som de uma música inaudível. Ri comigo mesmo, ao pensar em que deveria ter escrito um livro de poesias em vez de meter-me a cientista.
Parte 2A - Tomando banho de banheira
Duque de Caxias 29 de Março de 1979.
COMO MEU AMIGO JÁ INFORMOU, meu nome ó João lnácio. Decidimos dividir essa narrativa para que as pessoas que lerem tenham uma idéia de ambas opiniões e possam entender melhor o que aconteceu.
Vocês já sabem que surgiu involuntariamente uma terceira personagem: Minha colega Márcia. Embora eu tenha permanecido calmo, culpei Monteiro pelo descuido de esquecer a porta da garagem aberta. A isso foi acrescentado o fato da Retronave ter oscilado quando descemos dela.
Durante minha conversa com Marcinha (é assim que a chamo), quando tentava acalmá-la, ouvimos um ruído e verificamos que a Retronave rolara para um lado e amassar-se. lnfelizmente ela deve ser uma esfera perfeita e isso nos custaria muito trabalho. Tudo isso contribuiu para balançar meu relacionamento com o Monteiro e durante algum tempo deixamos de comunicar-nos, numa atitude infantil mútua.
Todas as pessoas que tinham relação conosco notaram essa modificação radical. Por mim, não gostava absolutamente dessa situação e procurava algo para não pormos tudo a perder. Essa chance surgiu ao ocorrer-me a idéia de prover a Retronave com um sistema de propulsor, assim não seriamos repelidos.
Na tarde desse dia, com é casa de Monteiro e o encontrei sentado é mesa lanchando.
– Descobri – gritei.
– Ele olhou-me sem parar de mastigar e respondeu:
– andou tomando banho de banheira?
Na hora não compreendi o que ele quis dizer com isso, só mais tarde. Contei-lhe minha idéia e percebi o interesse em seus olhos. Após ouvir-me, sorriu e disse:
– Eu nunca pensei em desistir. Tenho algo para lhe contar também. Contei tudo a Márcia e ela está conosco agora. Não sei se concordará comigo, mas até instalei um assento a mais na Retronave, ficou apertadíssimo, mas dá pra três pessoas. Você sabe que ela é taquigrafa e nos será útil. Em poucas palavras, foi assim que tomamos com força redobrada ao trabalho.
Quanto à Marcinha, tentamos pô-la a parte de todos os acontecimentos. Foi difícil até para nós, imagine para ela acreditar. Uma decepção foi que as fotos que tirei, davam a impressão de um céu com poucas estrelas, ou seja, alguns pontos luminosos em um fundo escuro. Qualquer pessoas que visse as fotografias, imaginariam mil coisas, menos falássemos de elétrons pulsantes. Já está enraizado em nossas mentes aquele velho conceito de modelo atômico…
Desculpem-me, pois eu já estava começando a divagar. Pois como Monteiro costuma dizer: sou um poeta bastante extrovertido. Bem, para acharmos um tipo de propulsor, tivemos sérias dificuldades, embora não precisássemos necessariamente de um impulso forte. A questão era o que?! Pensamos em jatos de ar, mas não era possível bombear O ar do interior do veículo, a menos que quiséssemos morrer sufocados.
Certo dia, observei na Av. Nilo Peçanha um acidente com princípio de incêndio de um automóvel. Tive a idéia ao ver o motorista usar o extintor. Pensei que, caso a saída de descarga do extintor fosse bem menor, poderia haver um bom impulso em sentido contrário ao do jato.
No dia seguinte, discutindo isso (na presença de Marcinha), chegamos a conclusão de que era possível carregar dois ou mais extintores com ar é alta pressão.
Conseguimos facilmente os extintores vazios, mas tivemos dificuldades em convencer um sujeito baixinho e bigodudo a carregá-los com ar, já que alegava não ser essa a função correta. Depois, com mais dinheiro no bolso, ele finalmente convenceu-se de que “éramos de toda confiança”.
Grosseiramente explicado, achávamos que a diferença de pressão entre os cilindros e o ambiente externo seria suficiente para nos impelir. Bastava para isso, adaptar os extintores de modo que a válvula de saída, ficasse na parte externa e assim que abríssemos essa diferença de pressão se encarregaria do resto. Sendo assim, nosso único problema seria a localização. Como Vocês devem ter notado, não temos conhecimentos amplos sobre esses assuntos, mas com alguma sorte poderíamos ter sucesso.
A instalação desses “propulsores” nos deu trabalho quanto a vedação, já que tivemos de abrir os orifícios para as válvulas no revestimento da Retronave, de modo que isso não influenciasse na perfeita forma esférica.
Embora eu nunca tenha perguntado, pude perceber que Monteiro tinha uma certa relutância em admitir Marcinha em nosso grupo, e pude sentir bem isso quando ela quis inteirar-se completamente do funcionamento de tudo e ele hesitou antes de concordar. Estávamos os três sentados, conversando em minha casa.
Era uma tarde bem quente, embora tivesse chovido no dia anterior. Após a indagação da Marcinha e a hesitação do Monteiro, ele começou a explicar-lhe, quando fiz discretamente um sinal afirmativo.
– O princípio de tudo – começou – foi a descoberta de uma força que atrai a luz tal qual um magneto atrai metais. O termo exato, não é “atração”, mas isso não vem ao caso. Como Você viu, a Retronave é perfeitamente esférica e coberta externamente de uma redoma que reflete os raios luminosos. Ao emitirmos um feixe de luz, este ó refratado pela redoma e depois retoma ao “centro do foco” por meio desta “atração”. A luz, ao regredir, modifica-nos dimensionalmente, e pelo que pudemos observar, também temporalmente.
Essas últimas palavras foram seguidas por um leve aceno de cabeça por parte de Marcinha, indicando que entendeu a explicação. O objetivo dessa nossa reunião, era dar explicações a ninguém. Estávamos ali para tirar novas conclusões com tudo organizado.
Não demoraria muito a anoitecer quando demos por finda essa tarefa e nos propusemos a marcar nova tentativa de viagem, só que desta vez estávamos preparados e não desistiríamos como tanta facilidade como da outra vez. O único inconveniente era que sendo Marcinha, uma garota, não teria tanta facilidade como nós em “viajar”. Decidimos afinal, pelo próximo sábado, quando todos obteriam um tempo disponível.
Parte 2B - Tomando banho de banheira
Duque de Caxias, 31 de Março de 1979.
ESTRANHO COMO, CONTANDO AGORA, os fatos dão a impressão de terem ocorridos com outras pessoas e não conosco; e parecem algo distantes. Mas aconteceram, quer eu queira ou não. Tentarei descrevê-los como toa a fidelidade que me for possível.
Não sabendo escolhido, tudo parecía-me diferente, mesmo as coisas mais comuns. Eu sentia um sabor exótico nas canções que vinham de um lugar próximo, nos risos e gritos de crianças e todo O dia transcorreu assim.
Aproximadamente às 18h00, dirigi-me à garagem e tal foi minha pressa que adiantei-me aos outros. Vi quando Marcinha e Monteiro aproximaram-se e bateram é porta. Não tínhamos mais nada a falar, portanto, não pronunciamos nenhuma palavra ao entramos na Retronave. Fui o último a faze-b porque quis certificar-me de que ninguém entraria ali na nossa ausência, como ocorreu com Márcia. Tomei assento. O acender da luz foi quase imperceptível, mas era fácil notar como ela retroagia. Tudo ocorria como antes, com a única diferença que já sabíamos o que esperar.
Lembrava vagamente um entardecer. A visão turvava-se um pouco e depois… nada. A escuridão enervava-me, mas não só a mim. Podia adivinhá-lo pois ouvia as respirações ao meu lado, pesadas. Afinal, surgiram as luzes, como faróis distantes e misteriosos. A cada cintilar, eu conseguia ver o rosto de Marcinha, com uma expressão deliciosamente atônita. E foi justamente ela quem quebrou o longo silencio que reinava até ali:
– Esses… pontos luminosos, são elétrons? Será que são molinhos e frios com gosto de chocolate!?… Ah, Netinho, (assim que ela me chama) eu quero um.
– Como se não chegasse um engraçadinho aqui dentro, agora temos dois – murmurou Monteiro.
– Pensamos que sim – respondi – porque, pela lógica, eles seriam a única causa para esse fenômeno. Agora, se tudo ocorrer como antes, um desses elétrons nos atrairá assim que aproximar-se o suficiente e seremos lançados de um para outro ate atingirmos o núcleo.
– é isso – interrompeu Monteiro – sem cessar a nossa redução de tamanho.
Quanto ao seu elétrons – completei – se der tempo agente põe um aqui dentro. Mas cuidado, ele morde muito. Realmente, os “faróis” tomavam-se mais e mais próximos, a ponto de prevermos, mentalmente, um colisão. Não sei se tal poderia ocorrer e O que isso acarretaria, mas ficou somente na suposição, pois fomos irremediavelmente atraídos e lançados é uma aceleração apavorante. Enquanto as acelerações se sucediam, eu procurava fotografar tudo, porque tencionava comparar os fatos com as anteriores. Então, surgiu uma imensa esfera luminosa, que em pouco tempo, tomou toda a nossa visão, tal eram as dimensões. Fomos de imediato, tragados por eles.
A mesma massa luminosa que já conhecíamos estava lá, como que esperando. Esperando o meu gesto que jamais deveria ser feito. Mas eu o fiz. O tempo acelerou-se milhões de vezes, arrastando-nos com ele, ao acionar do conversor. Vimos aquela energia disparar em todos o sentidos, numa explosão de âmbito universal.
O tempo que seria medido em séculos, escoava-se em segundos. Aquela massa unida dividiu-se incontrolavelmente, em um movimento louco, girando, girando e adquirindo formas esféricas. Era a formação de um universo. Um universo dentro do nosso.
À nossa frente, surgira algo novo: um planeta, mas não como o anterior. Parecia ter somente um continente, embora gigantesco. Tinha um planeta. Recebia calor de uma enorme estrela vermelha que parecia mais imponente ainda, ao lado de uma estrela menor e aparentemente, mais fria. Era embriagador e ao mesmo tempo, terrível observar aquelas cenas.
– Olhem – comentou Marcinha – aquele ponto no lado esquerdo, refletindo a Luz, e só por isso conseguimos notá-lo. Era outro satélite, mas bem menor… e não era natural. Podíamos perceber o brilho metálico.
Ficamos vários minutos a olhar, ate notarmos uma diferença.
– Ele está aproximando-se – disse Monteiro.
– Não – falei – Nós ó que nos aproximamos.
Depois de alguns minutos (ou seriam horas?), já que era possível vê-lo com nitidez. Possuía uma antena oval giratória que seguia nossa aproximação.
– Acho que devemos disparar um jato na direção contraria – opinou Marcinha.
Monteiro apontou para o espaço vazio que estava na direção indicada e falou:
– E para onde iríamos?
– Realmente. Temos duas alternativas além dessa. Uma é irmos em direção ao planeta e arriscamo-nos a nos arrebentar no solo. E a outra ó ficarmos quietos e esperar.
A lenta chegada do satélite não era confortante, mas as outras alternativas também não o eram. Optamos por esperar.
– Netinho, e se lá dentro sair aqueles Marcianinhos verde da “status” – comentou Marcinha.
– Bem que você queria – completou Monteiro.
Enquanto dentro da Retronave se desenvolvia aquele papo “altamente intelectual” eu admirava a imensa construção metálica. A distância pode enganar, entretanto somente aquela antena parecia ser muitas vezes maior que a Retronave.
Era constituída de milhares de alvéolos, cada um com um ângulo diferente, já que formavam uma superfície côncava. Cada alvéolo, era facetado, e foi fácil perceber que a imagem da Retronave atingia uma das faces daquele conjunto fantástico e assim, eles tinham nossa perfeita localização, seja lá o que fossem.
Até hoje não sabemos se fomos controlados ou tinha traçado nossa trajetória, pois esta nos levou com absoluta precisão ao interior do satélite. Passamos por comportas cujas espessuras chegavam a ser maior que o diâmetro de nossa nave, tudo em um metal que parecia emitir Luz própria, ou talvez refletisse.
Estávamos a imaginar mu coisas que veríamos ali, todavia a decepção foi total no início, pois não havia absolutamente nada a não ser um recinto enorme e vazio. Até então, não recebíamos nenhum som do exterior. Um murmúrio indicou que injetavam uma atmosfera. Sendo assim, ou viriam ao nosso encontro ou queriam que fossemos a eles. Como não somo heróis, preferimos a primeira hipótese e nos armamos com toda a calma possível. Que era quase nenhuma por sinal. O nosso campo de visão era tão restrito que não sabemos de onde eles vieram.
Apenas os vimos surgir, com expressões curiosas, no rosto de uma tonalidade avermelhada e cabelos cor de trigo. A tez vermelha era a única coisa que os diferenciava fisicamente de nós. Começaram a fazer sinais que, com evidência, significavam que nos queriam lá fora e que não havia perigo algum.
Francamente, não estávamos dispostos a sair dali, porém a curiosidade nos leva por vezes a atos contraditórios. A atmosfera era perfeitamente respirável e a temperatura um pouco alta.
Notei que um deles destacava-se dos outros e nos aguardava poucos passos além da saída da Retronave. O que ele fez em seguida foi atordoante. Pois falou:
– Vocês demoraram mais do que o esperado. Podem acompanhar-me e não temam.
– Você… fala nossa língua? – não me lembro quem disse isso.
– Mais tarde falaremos sobre o que Vocês quiserem. Venham.
Essa atitude não agradou-nos, pelo que pude perceber da expressão do Monteiro e por mim mesmo.
Ele nos guiou até um comporta relativamente pequena, por um corredor, até um recinto quadrado, cuja porta metálica fechou-se é nossa passagem. Ficamos alguns segundos parados ali e não senti absolutamente nada. Quando a porta tomou a abrir, estávamos em um local bem diferente do anterior. Imaginei que tínhamos usado elevador. Sem dizer palavra ou olhar para três, ele apressou os passos, encaminhando-se com segurança por portas e corredores. Paramos numa espécie de sala.
E curioso notar que as tonalidades do ambiente, pendiam todas para o púrpura e suas matizes. Os assentos eram colocados no chão, de modo que parecíamos uma família nipônica.
Ao que parece, eles não gostavam de palavras que não levam é nada, ou então aquele representante era assim, pois nem ao menos apresentou-se.
– Nós sabemos a muito tempo, que existem várias dimensões, tanto no infinito maior, como no menor. O único detalhe desconhecido era o modo de cruzar essas dimensões, pois até agora só conseguimos enviar ondas de radio distorcidas. Foi assim, que por um acaso descobrimos que Vocês tinham o segredo, já que pudemos observá-los. Conseguimos impulsos enquanto dormiam para que construíssem uma nave que planejamos. Ou vocês pensam que sozinhos teriam obtidos todos esses sucessos? Eu fui incumbido de estudar sua língua, embora ache supérfluo dar essas explicações. Nesse momento, seu invento está sendo estudado e copiado, para aperfeiçoá-lo.
– Com qual finalidade? – indaguei, receoso da resposta. Pela primeira vez, um sorriso brotou nos lábios dele.
– Só posso dizer-lhes que dentro em pouco, a nova nave estará equipada com quase uma centena de bombas. O resto, adivinhem por si sós.
– Mas a troco de nada? – perguntou Marcinha rapidamente apavorada.
– Não, como Vocês sabem apesar de sermos do mesmo mundo que o seu, estamos em outra dimensão. E existem fatores que não adiantariam lhes explicar, que são fatais é nossa sobrevivência.
Levantou-se e saiu sem uma palavra ou gesto de despedida. Passados alguns instantes da surpresa, só pude observar:
– Uma Retronave equipada com bombas? Eles serão tão ingênuos de pensar, que conseguirão dominar o mundo com cem bombas?
– Poderão sim – replicou Marcinha – caso eles lancem as bombas no tempo. Lembram-se de quando eu vi vocês desaparecerem e reaparecerem no mesmo instante? a Retronave modifica o tempo também. Se eles lançarem uma bomba após outra, de modo que eles explodam uma por ano, o nosso mundo será bombardeado durante cem anos seguidos e ninguém poderá fazer nada.
A razão de todos os mundos esta com ela, isso era inegável, mas o que poderia ser feito por nós? eu tentava pensar em algo praticável, quando Monteiro dirigiu-se é porta de onde o ser tinha saído. Eram duas placas de metal verticais que se abriam e fechavam horizontalmente.
– O que ele fez para abrir isso? ele perguntou. Aproximei-se, seguido de Marcinha.
– ele somente parou aqui em frente, deve existir uma célula fotoelétrica ou algo semelhante. Realmente, vi um ponto no chão que se destacava por ser mais luminoso e assim que pisei sobre ele, devo ter aberto o circuito que mantinha as portas fechadas, e elas deslizaram sem nenhum ruído. Vi um braço surgir, um bravo vermelho e com um golpe de judô instintivamente puxei-o, fazendo a pessoa que nos vigiava se desequilibrar.
Quase cai, enquanto Monteiro deu-lhe um golpe no pescoço. Levantei-me e consegui atingi-lo em pleno rosto com um pontapé. O homem vermelho desabou no chão, com sangue mais claro que sua pele a escorrer pelas narinas e boca. Saímos sem destino, sem escolher lugar até que Marcinha reconheceu o “elevador” por onde tínhamos vindo. Abrimos a porta do mesmo modo anterior, embora tenham demorado alguns segundos mais.
Concluímos que ele nos levaria somente da “garagem” onde estaria a Retronave, até onde estávamos, já que aparentemente não havia meios de parar o elevador em outros lugares. E assim foi. A porta abriu-se, atravessamos o corredor e a comporta. No recinto amplo e iluminado, podemos ver a Retronave e mais adiante, uma perfeita cópia dela, não fosse o melhor acabamento e o brilho do metal. Duas pessoas iam e vinham, carregando para a Retronave II, objetos cilíndricos. Ao acabar a tarefa eles se postaram, em frente à Retronave e acenaram como se alguém os pudesse ver. Em seguida, entraram.
Em poucos segundos, aquela imagem se desvaneceu gradativamente e nada mais restava…
– Eles se foram – disse Monteiro – com certeza para bombardear nosso mundo.
– Olhe – falei – em poucos minutos saberão que fugimos. Vamos embora. No caminho, pensaremos no que fazer.
E sal’ correndo, rumo é Retronave, seguido de perto por meus companheiros. Embarcamos, ligamos o centro de foco e a reversão e tudo se apagou para nós. Estávamos no “limbo”, no nada. E a angústia da espera se prolongou até vislumbrarmo-nos ao primeiro sinal de havermos chegado.
Era o caos. Não desligamos a reversão, e por isso era possível ver sem estar realmente lê, a destruição de tudo aquilo que nos era mais querido. Nada mais restava da garagem, a não ser os escombros fumegantes.
Controlando a velocidade da luz, viajamos por entre as ruínas e delas pouco estava em pó. Um nó apertado se fez em minha garganta. Meus pais… mortos. O colégio ali estava, só pedras carbonizadas. Meus amigos, talvez estivessem lê. Meu Deus! O fim veio é partir das mãos de três adolescentes.
E aquilo continuaria, até sugar a última gota de vida sobre nosso mundo. Foi com horror, que quedamos sem saber o que fazer. Tudo parecia tão inútil. Era necessário pensar, mas era extremamente difícil fazê-lo. Conseguimos porém, chegar é duas alternativas: poderíamos retroagir até o momento anterior a nossa captura e fazer com que ela não ocorresse, ou simplesmente voltar ao início de nossa viagem e destruir a Retronave, assim eles não teriam a menor chance de concretizar o que estava acontecendo.
Por um lado teríamos imensas dificuldades de executar a primeira hipótese, e por outro lado, perderíamos a oportunidade incrível de revolucionar todo o mundo se fosse cumprida a segunda. Mas ante os fatos que desfilavam por nós, não restava dúvidas sobre o que deveria ser feito. Imediatamente, parecíamos máquinas trabalhando. A luzes, que agora era nossa escrava, voltava, alternando tempo, espaço e dimensão.
Já não era tão emocionante, ver os fatos terem como um filme ao reverso. Foi com alívio, que passamos pelo mundo subatômico, voltamos ao nosso e afinal, pudemos ver a mesma garagem, em pó se sentimos que nosso mundo continuava alheio a tudo que ocorrera. Em um silêncio, todas as peças de um sonho, foram desmontadas e algumas destruídas. Não era possível retomar e pretendíamos nunca mais fazê-lo. Tínhamos conseguido modificar o futuro de um universo, e a sensação que nos dominava era de controle sobre o próprio destino, como se fossemos Deuses.
Compreendi então, que o homem poderia algum dia, alcançar todos os valores sonhados. Aproximando-se cada vez mais dos entes que ele considera superiores, mas que a única falha seria o suficiente para desfazer tudo o que foi conseguido até ali.
Parte 3 - Ao sabor do infinito
EU SOU MÁRCIA GONZAGA OLIVEIRA. Sei que envolvi-me nesses acontecimentos porque assim o quis, embora és vezes, acorde em meio a pesadelos e me censure por ter deles participado.
É incrível como as pessoas podem negar a nossa verdade e como ó posta em dúvida a sinceridade. Foram um fracasso completo, as nossas tentativas de convencer até mesmo amigos da experiência sofrida por nós e das conseqüências que “aconteceram”.
As fotos tiradas por Netinho (João), nem foram levadas em conta, pois realmente pareciam apenas “luzes ao longe”, faróis de carros ou truques fotográficos, como nos disseram. E a única coisa que poderia convencer os mais céticos, não queríamos revelar, pois desencadearia um novo holocausto: a regressão luminosa.
Infelizmente, assim termina essa narrativa de algo que poderia ter modificado os rumos da historia.
FIM