
De um total de dez, sou o sexto filho do relojoeiro João Inácio Filho e de dona de casa, Laura Maria Inácio. Nasci na cidade de Bonito, no agreste pernambucano. Confesso que não me recordo desse dia, mas consta da minha certidão de nascimento que o dia 17 de agosto de 1961 foi quando passei a ver o mundo. Talvez um dia faça “análise, regressão, transgressão, digressão, progressão”, sei lá, uma dessas coisas que, dizem, nos fazem lembrar do passado, porque exceto numa foto de pijama como se fosse jogador de futebol e noutra onde mostrava meus dotes físicos, quase nada me recordo desde o nascimento até os oito anos.
Lembro-me que sonhava em ser cientista, mas bastou cruzar em minha vida um cidadão sem igual, um simples professor de geografia, cujo nome era “José Telegrafista”, para que um mundo novo, uma nova América, surgisse em meus horizontes. Coube a ele me mostrar que um pedaço de película cinematográfica poderia ser projetado numa parede para ganhar cores na imaginação de muitos. Sequer sonhava fazer cinema, mas meu professor fez para mim o que hoje chamaríamos de “projetor de slides”, eu era amigo do José Carlos, filho do único cinema da cidade (sorte minha que toda sessão era interrompida pelas quebras das películas dos filmes e eu ganhava desse meu amigo os pedaços que sobravam das emendas) e assim ganhava alguns trocados dos amiguinhos de rua que lotavam a casa da minha mãe para minhas “sessões de cinema”.
Mamãe estendia um lençol branco, eu fechava as janelas e eureka! mágica! Cinema! Lembro-me que certa vez alguém comentou: porque não se mexe? Fui para trás do lençol, era a cena de um filme de bang-bang e tinha um cavalo branco, e comecei a balançar o pano. Pronto, já tinha movimento. Ainda faltava falar, mas não relinchei. Aí já seria demais. Genial. Já registrei um roteiro cujo título é A máquina que mata monstros e essa cena, que pulsa viva em minha mente, constará com detalhes de um filme. Tudo isso aconteceu por volta de 1969
Em 1974, ante o falecimento do meu pai, seguimos a tradição nordestina e mudamos todos para a cidade grande, para o Rio de Janeiro. A arte não sei bem se era o meu porto seguro ou minha fuga, mas o certo é que o choque cultural e social foi sem medida e ela foi o caminho para cruzar aquele deserto. Bruscamente deixei de ser João Inácio, Joãozinho, para ser pejorativamente “Pernambuco”. Era estranho, não me envergonhava por ser pernambucano, mas sentia na pele todo preconceito sócio-cultural contra os nordestinos. Assim surgiu a necessidade de escrever para não explodir.
Quis morar em “Pasárgada, pois lá poderia ser amigo do rei”, mas não deu certo. Não fui à Pasárgada, mas criei Niara. Por sorte, havia aprendido com meu pai que muito podemos saber se humildemente observarmos o que os outros fazem. Hoje, vejo que Deus, passo a passo, já cuidava do meu caminho. Tive um professor de Português, Luis Sebastião Pereira Teixeira, poeta dos melhores, que viu algum valor no que eu escrevia. Ele não se cansava em corrigir e sugerir alterações para os meus primeiros ensaios. O prof. Luiz Sebastião me apresentou seu mundo poético e de, dentre outros, Vinicius de Moraes, Ferreira Goulart e Manuel Bandeira. Meses depois, em 1975, para orgulho do mestre, me classifiquei em segundo lugar no “1º Concurso Mace de Poesias”, na cidade de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. Fruto desse incentivo, em 1979, nasceu meu primeiro livro de poesias, “As duas Faces da Vida” e, juntamente com um amigo, José Francisco Monteiro, o livro de ficção-científica “Ao Sabor do Infinito”, ambos no inusitado processo conhecido como “cachacinha” (cópias feitas em um velho mimeógrafo à álcool). Minha irmã, Kinha, quem mais me incentivava, digitava cuidadosamente os meus textos e ficava aloprada com o cheiro do álcool. Tadinha, fazia um a um dos livretos, artesanalmente, para que os vendesse aos colegas de escolas e outros poucos interessados. Em 1981, veio o livro “O Poder da Criação”, anos depois relançado sob o título “Pivete”. Também foi nesse ano que comecei meus primeiros acordes, pois queria aprender a tocar violão e colocar músicas em minhas poesias. Foi assim, através da arte, que o preconceito foi vencido e deixei de ser “Pernambuco” para ser conhecido como Netinho.
Em 1982 aconteceu o inusitado (e nunca desejado). Mudei-me para Brasília a fim de criar e instalar a filial de uma empresa carioca. Na verdade, eu queria fugir da PM. Explico. Estava desempregado, pensando em ficar noivo, e havia passado em um concurso para ser Polícia Militar. Tentei aplicar um golpe na minha família. Pensei: vou, dou satisfação para a família, e volto dois ou três meses após… rsrsrs… mas me esqueci de combinar essa decisão com Deus.
O início da vida na capital do país foi duro, solitário, mas de grande aprendizado. A vida cultural em Brasília sempre foi intensa e em 1983 já estava bem familiarizado com o meio artístico e desenvolvia alguns projetos.Fui um dos idealizadores e realizadores do “I encontro de Poetas Independentes”. Anand Rao, Zunga, Estela Rodopoulos e muitos outros bons poetas fizeram parte dessa empreitada. Ah, me esqueci de citar que ainda no RJ havia tido alguns ensaios na área de teatro, mas foi aqui no DF que comecei a realmente aprender um pouco dessa arte. Nesse ano integrei um grupo fantástico, que encenou a peça “Chapéu de Sebo” e Hoje tem marmelada, ambas no Teatro da Escola Parque.
Em 1984 participei da coletânea “Escritores Brasileiros – Volume II” (Crisalis Editora). A música já delineava seus contornos em minha alma, o pré-noivado no RJ havia terminado, e há quase um ano namorava a Ranúzia. Ainda nesse ano tive uma música premiada com o melhor arranjo (o arranjador foi do maestro Eduardo Carvalho), no festival de música da Caixa Econômica Federal.
Bem, quando menos esperava já não era mais eu, e sim nós, pois já era o marido da Dona Ranúzia. Aqui convém fazer um adendo. Enquanto morava no RJ, nas ilações descabidas que fazia, afirmava que “jamais moraria em Brasília e nunca seria crente (evangélico)”. Eheheheh, como era tolo. Hoje vejo que metamorfose é uma coisa percebida apenas para quem não a sofre. João Inácio. Nesse ano, com direção musical da Ranúzia, dirigi e atuei no musical “O Rei dos Reis”, na Igreja Presbiteriana da Alvorada. A partir daí a música ocupou um grande espaço das nossas vidas e durante significativos anos nossa atividade mais corriqueira era fazer shows e apresentações. De botecos à pequenas e grandes igrejas. Em muitos cantos desse nosso país e até fora dele, a dupla João Inácio & Ranúzia até que foi bem conhecida.
Filhos é a designação que a maioria das famílias dão para quando alguém novo aparece do fruto da esposa (ou adotado). Para nós, o que Deus nos deu mereceria uma nova classificação. O ano de 1985 foi um dos mais marcantes em minha vida, compusemos a primeira das nossas melhores obras: Matheus Felipe Inácio Santos (Choko) e Lucas Henrique Inácio Santos (Cuca). Em 1985 veio o Matheus e depois, em 1986, o Lucas. Matheus e Lucas são normais, com erros e acertos de todos os filhos, mas são fenomenais. Enquanto aprendíamos a ser pais, inserindo-os em tudo que fazíamos, em 1985 criamos o grupo musical Shekiná que durou até 1988. Para quem um dia foi desencorajado pelo professor de violão, o ano de 1987 significou que valeu a pena persistir. Deus permitiu a gravação do nosso primeiro disco (Certas Canções). Muito embora, a música ocupasse todos os espaços, nunca parei de estudar as outras formas de linguagens. O fato é que, cada vez mais minha fé, meu amor por Jesus Cristo, tornava-se a tônica e a razão das minhas expressões.



Em 1989, o meio cultural evangélico no DF estava em plena efervescência. Mesmo sem largar a música, participei como fotógrafo da 2ª Exposição Cristã de Artes, no Auditório do Conjunto Cultural da Caixa Econômica Federal, Brasília-DF. No ano seguinte fui convidado pelos amigos Robertinho e Jairo Ribeiro, para dirigir o primeiro programa no estilo gospel (Cultura Gospel), em rádio FM, na capital federal (Cultura Gospel, Cultura FM). Permaneci como diretor desde sua fundação até 2001. Graças à persistência do brilhante locutor, Jairo Ribeiro, o programa ficou no ar por 15 anos e destes por 13 estive à frente como Produtor. Foi um baita aprendizado. Em, 1992, juntamente com os artistas Quico Fagundes e Sergio Seiffert, organizamos o evento “SOS – Inundações”, com o objetivo de angariar donativos para o nordeste que, na época, estava sofrendo grandes problemas com inundações em vários localidades. Juntamos no mesmo espaço, o extinto Gran Circo Lar, as principais bandas não evangélicas (Liga Tripa, Paulo André, etc.) e evangélicas (Rodrigo Bueno, Raizes, Atalais de Cristo, Livre Arbítrio, etc.), as tv´s Manchete e Nacional apoiaram divulgando e informando onde os donativos poderiam ser entregues, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiro do DF se encarregaram de atender por telefone pessoas que queriam doar e não iriam ao show, o Banco de Brasília patrocinou as despesas e disponibilizou uma conta corrente para receber depósitos, ufa, deu um trabalho de louco, mas até hoje me lembro com gratidão sobre como Deus moveu três jovens “com uma idéia na cabeça, e um Deus no coração” para fazer toda uma cidade se mobilizar em direção ao próximo. Me senti como o jovem do evangelho (vide João 6:9) quando o esforço resultou em quase 15 toneladas de alimentos e roupas e significativa quantia financeira depositada em conta. Pena que nem tudo foi tão agradável. O Sérgio Seiffert pegou emprestado o carro do Kelson, do Atalaias de Cristo, para colar cartazes na cidade (coisa que fazíamos nas madrugadas) e roubaram o carro dele, digo, do Kelson.
Hoje tenho a impressão que música “foi um rio em minha vida e meu coração se deixou levar”. Houve um tempo em que respirávamos acordes e nada além disso. Em 1993, dentro do Projeto Made In Brasília, da Fundação Cultura do Distrito Federal, lançamos o disco Sal da Terra Brasis (Gospel Records). Logo depois, em 1997, lançamos o disco O Eterno em Mim. Juntamente com o músico Carlinhos Veiga, criamos o programa matutino de rádio “Logo de Manhã” (92 Fm) para a igreja que frequentava (Igreja Presbiteriana de Brasília).
Aos poucos o que um dia havia sido brincadeira de criança, por força dos estudos de publicidade, a primeira escola, o cinema, reflorescia. Em 1998, escrevi o roteiro, editei e dirigi o vídeo “Delírios Trêmulos de um Hebreu Nordestino”, que foi apresentado na mostra de vídeo da faculdade CEUB, em Brasília. A poesia andava junto com tudo isso e em 1999, por iniciativa de colegas de faculdade, participei da coletânea de poesias “Pequenos Delírios”.
No ano de 2000, sem planejamento prévio, dentro do estilo “escrever para não explodir”, escrevi o romance Niara – Um Juiz na Tribo das Águias (MW Editora). Um amigo especial, Valter Junior, que é deficiente visual, solicitou o arquivo para que seu “computador pudesse ler o livro para ele” (há programas especiais para deficientes visuais que lêem, com voz de máquina, arquivos de textos). Coincidentemente, um conhecido locutor paulista, Paulo Cesar Bonaldo, havia enviado para o Valter um e-mail se dispondo a ler textos e poesias com o fim louvável de ajudar os cegos. O Valter deliberadamente enviou meu livro e ele começou a gravar os respectivos áudios. Gostei do que ouvi e comecei a fazer a sonoplastia resultando em um surpreendente audiolivro. Hoje isso é comum, mas na época foi uma grande novidade e permitiu o acesso a muitos deficientes que não tinham acesso à Internet. Os depoimentos que eu e Valter recebemos foram emocionantes. A continuação do livro está bem adiantada e será chamada “À procura de Imago”. Ainda nesse período recebi da Igreja Presbiteriana de Brasília, um convite para que fosse seu “Ministro de Comunicação” e organizasse a área de comunicação da nossa comunidade. Foi um desafio sem igual e que me propiciou uma diversificação no meu conhecimento, pois tive que aprender para ensinar. Tive que estudar desde noções de designer para que aprendessem a diagramar até como dirigir um programa de TV. Como Deus é bom! Nunca aprendi tanto em minha vida. Fruto desse esforço foram criados os programas de TV “Janela para a Vida”, “i9Jovem”, o programa de rádio “logo de manhã” e a Rádio IPBsb Online (uma rádio funcionando integralmente na internet). Para atender a uma demanda de um professor da faculdade, em 2001, juntamente com Christian Dantas, Karina Lobo e Wilson Albuquerque, criamos o documentário “O Resto do Mundo”. Também nesse ano dirigi e editei o curta animado, “Tia Josi”, de Cristian Dantas, produzi os discos Grata Memória – Voz Piano e Emoção (Volumes 1 e 2), de Ranúzia, e o disco Natal Instrumental, das musicistas Norma Lilian e Marília Gonzaga. Para fechar essa etapa de produções com chave de ouro produzi e dirigi o CD “Salmos, as Canções de Deus, do Rev. Adail Sandoval.
O mundo dá volta e fui parar do outro lado do mundo, na Nova Zelândia.Em Auckland aconteceu um fato que mudou minha vida. Desenvolvi uma boa amizade com a família com quem fui morar e tanto eles quanto eu éramos aficcionados em cinema. Sue, a dona da casa, conhecia a vice-reitora da Universidade de Auckland que tinha um curso de cinema. À época o curso de cinema dessa universidade estava sendo bem comentado porque o filme O senhor dos anéis havia acabado de ser lançado e em toda Nova Zelândia não se falava noutra coisa que não fosse o êxito do neozelandês Peter Jackson. Despretensiosamente um dia comentei que já havia pensado em ser cineasta mas percebia que o tempo já havia passado e Sue perguntou se eu não tinha interesse em conversar com essa vice-reitora. Pensei que seria uma ótima chance de treinar o inglês e lá fui eu. Havia preparado um breve CV com essas coisas que já havia feito e fiquei surpreso quando ouvi dela algo como “nossa, você tem muito talento. Você já fez tudo isso com essa idade? Queremos te ajudar a vir estudar aqui”. Quando a disse que me sentia velho pra começar a pensar em cinema profissionalmente ela de pronto me retrucou “João, observe como os grande cineastas despontaram depois dos 60”. Irônico, eu me achando velho e ela me dizendo que ainda estava engatinhando. Criei coragem para mudar de rumo mas não fui insensato de largar a carreira que tinha pra me aventurar numa nova como se tudo fosse fácil. Assim, enquanto progredia na empresa que trabalhava paralelamente estudava. Qualquer chance que tinha lá ia eu pra São Paulo fazer cursos de roteiro, computação gráfica, direção de arte, etc e etc. Comecei e nunca parei. Da cadeia cinematográfica só falta fazer o curso de maquiagem (está na agenda). Entendi que se no futuro aquela seria minha profissão eu precisaria ao menos compreender toda cadeia produtiva para saber adequadamente conversar com os profissionais envolvidos. Não podia ter tomado decisão melhor. Claro, agora, cheio de segurança e a velha cara de pau, passei a produzir desenfreadamente. Ainda na NZ, conheci a jornalista Gisah Batista e juntos fizemos o documentário “Fé & Fama”, sobre a vida do jogador neozelandês de rugby Ali Lauit’iti. Como são as coisas… acho que esse foi o auge das minhas produções no estilo guerrilha. Por providência divina conheci uma pessoa que me apresentou esse jogador sem saber que ele seria equivalentemente a um jogador nosso do tipo Zico, Neimar, etc. Muito famoso no mundo do Rugbi, um mundo que até então eu desconhecia, mas um cara muito crente e extremamente simples. Como nada tinha a perder, antes de saber de sua fama, perguntei se poderia fazer um documentário sobre a vida dele e ele topou. E lá fomos eu e a Gisah entrevistar ele os demais jogadores no dia em que recebiam a imprensa mundial (rsrsrsrs). Imagine a cena, os caras com equipes e equipamentos profissionais e nós com uma filmadora Digital 8, um tripé de máquina fotográfica (com uma perna emperrada), um microfone de mão pra lá de meia boca e um headphone que só funcionava de um lado. Hilário. Mas o documentário saiu e, pasme, foi o primeiro documentário sobre esse conhecido jogador. Matérias jornalísticas sobre ele haviam aos montes, mas documentário, mesmo que rudimentar, foi o primeiro. Quando o concluí enviei uma cópia para a Helen Clark, à época 1a. Ministra da Nova Zelândia, e dela recebi uma carta agradecendo minha atitude e iniciativa. Desde cedo aprendi com um professor de fotografia que o grande segredo de um fotografo “é fazer muitas fotos, mas só mostrar as boas”. Dada as condições aquele não era o meu melhor trabalho, mas era o meu trabalho e sempre produzo pensando em dar o máximo de mim naquele dia. Claro, hoje vejo e acho engraçado como muitas coisas estão aquém do que posso fazer “hoje”, mas à época era o meu melhor.
Já de volta ao país, no ano de 2003, recebi o prêmio “Especial do Júri”, com o curta “ Monólogo de um pescador”, no VII Festicurtas, em Brasília. Em 2006, produzi e dirigi o documentário Sal da Terra, sobre a história do grupo homônimo e em 2007 fui convidado para produzir o DVD da banda Expresso Luz, em comemoração aos seus 20 anos de existência. Já em 2008, juntamente com Neander Coelho, produzi os documentários “Navegando nas Águas de Deus” e “Naoum”. No primeiro, mostramos a história dos quarenta anos de missão da Igreja Presbiteriana de Manaus junto aos Ribeirinhos da região e no segundo a saga da família Naoum, que saíram do Líbano com muito pouco e culminaram por montar um complexo econômico no Brasil.
Um convite irrecusável recebi em 2010, para gravação do DVD comemorativo de 25 anos de existência da Banda Raízes. Para mim, a maior dificuldade em realizar esse trabalho foi separar o lado “fã” do profissional. Esse trabalho não apenas me propiciou documentar a história de uma das principais bandas do país, como também, em um certo sentido, relembrar parte da minha própria história, pois estive presencialmente na maioria dos momentos desses meus amigos. Além da produção em si do DVD, constou dele também um breve documentário contando a trajetória da banda e juntamente com o animador Lemuel Massuia produzi a animação SL 148.
Já havia caminhado um pouco e era hora de respirar novos ares. Em 2010 interrompi minha carreira como executivo de uma multinacional para começar minha própria produtora, a Imaginação Filmes e Artes Audiovisuais. Ato contínuo comecei a produção do longa documentário TRUKS e que veio a ser concluído no início de 2012. Nesse interim produzi os curtas documentários “Tributo de Gratidão”, “Instituto Reciclando Sons” e o clipe “Palavras que amparam”, para o músico Edilênio Souza. Ainda em 2012, de maneira informal e sem grandes aspirações, apenas para os amigos próximos, como já disse “a música foi um rio em minha vida e meu coração se deixou levar” e era tempo de fazer um marco, e estabelecer que à partir dali a história seria outra. Por isso, celebrei meus 50 anos produzindo um DVD chamado Lá em casa. Nada de especial. Apenas reunimos alguns amigos no quintal de casa e gravamos parte das músicas de nosso repertório em um DVD que foi cedido gratuitamente a estes amigos (não, não existe para venda).
O ano de 2013 foi intenso e com grandes realizações. Além de ganhar os prêmios de “menção honrosa” no festival Curta Amazônia e melhor longa documentário no Vercine, o filme Truks obteve bons espaços de exibição em festivais no Brasil e na Grécia, Suíça, Colômbia, Uruguai e China. Na ida à China, pra participar do DocBrazil Festival, tive a chance de ir à muralha da China e por graça divina conheci uma banda brasileira (Soul Mundo) que estava em excursão por Xangai. Bem, quem já fez um documentário na NZ sem recursos filmar um clipe em plena muralha seria moleza e assim foi feito. Os loucos da Soulmundo toparam, os chineses se amarraram de ver brasileiros tocando samba em plena muralha e daí surgiu o clipe Samba em outro endereço. E pra completar o bom ano, além de inúmeros projetos de dimensões menores, Também produzi um curta de ficção “As luzes de Benjela” que no ano seguinte ganhou o prêmio especial do público na TAL (Televisão América Latina), fui selecionado pelo Fundo de Apoio à Cultura do DF para produzir um novo curta (O tiro), produzi o DVD da cantora cristã Thaíze Franco e no ano seguinte produzi o filme Carta da esperança que acabou por vencer o prêmio de melhor curta no festival “Curta Caxias”, no Rio de Janeiro.
À medida que me tornava um pouco mais conhecido comecei a prestar serviços para empresas fazendo vídeos institucionais e também webséries como as que produzi para o WWF (#Somosamazonia, Moradores da floresta e Histórias do pacto) e o curta documentário “Chico Mende, um legado a defender”. Todos esses filmes tiveram veiculação internacional por meio dessa ONG.
Como disse, em 1983 participei de um grupo de teatro em Brasília e nesse momento conheci um ator genial, um homem simples e sem igual. Seu nome, Gê Martu. Em Brasília talvez seja a maior referência viva do teatro local, e um dos ícones do teatro brasileiro, tal o tamanho da sua trajetória. O tempo passou e da admiração que nutri pela pessoa e artista surgiu o longa documentário O mestre da cena, lançado no Cine Brasília, em dezembro/2018.
A vida não é um sonho, mas tudo passa muito rápido como um sopro. Olho pra trás e fico surpreso por ver quanto coisa imaginei e Deus permitiu transformar em “coisas que podemos pegar além de sentir”. Há coisas que produzidos e ficamos felizes quando vemos os olhos dos outros brilharem em resposta a isso. Entretanto, naturalmente, há momentos em que não somos os produtores e sim os agraciados por bençãos maiores advindas de outras mãos. No caso, repetindo as palavras do pai dela, “em 17.07.17, às 15h25, Melissa Lidório Baltar Inácio chegou ao mundo! Pesando 2,940 kg, cantando a plenos pulmões e alegrando a todos no centro médico!”. Isso mesmo, Matheus e Débora fizeram um filme em nossa vida e agora eu e Ranúzia já somos avós. Não vejo a hora dela crescer pra fazermos juntos nossos filmes e nossa produtora já tem até nome “Tchoink filmes”.
Sem falsa modéstia e presunção, tudo isso foi um breve resumo do muito que aconteceu nesses 57 anos. De família pobre um dia duvidei se terminaria meu curso primário e hoje sou graduado e pós-graduado em Comunicação. Ainda há muito que gostaria de fazer mas bem sei que Deus é quem escreve o meu caminho. Se der pra fazer tudo que ainda quero, legal. Caso não, sem problemas. De tudo, concluo que Deus é bom e tudo tem valido à pena. Termino minha autobiografia citando a letra de uma música que define muito quem sou e como me vejo.
Tapeceiro
(Stênio Marcius)
Tapeceiro, grande artista,
Vai fazendo o seu trabalho.
Incansável, paciente, no seu tear.
Tapeceiro, não se engana,
Sabe o fim desde o começo.
Trança voltas, mil desvios,
sem perder o fio.
Minha vida é obra de tapeçaria
É tecida de cores alegres e vivas
Que fazem contraste no meio das cores
Nubladas e tristes.
Se você olha do avesso
Nem imagina o desfecho
No fim das contas
Tudo se explica,
tudo se encaixa,
Tudo coopera pro meu bem.
Quando se vê pelo lado certo
Muda-se logo a expressão do rosto
Obra de arte pra honra e glória
Do tapeceiro.
Quando se vê pelo lado certo
Todas as cores da minha vida
Dignificam a Jesus Cristo,
O tapeceiro.