I focuses for a long time in writing poems and chronicles. Many times I went to bars and cinema queues to sell my booklets, but I don’t record the time when I started to think in verses. The thing is: in me, poetry didn’t take time to grow. It flourish out of nowhere, from involuntary observations, daily facts and, above all, from the constant struck of the waters of doubt in the rocks of uncertainty in the mind of a teenager.
I think that Mikerino, from Niara, is the best one to define this activity: “everyone wants to write poetry, but they forget that the tears are the canvas of their poems.”
A paz
A PAZ
João Inácio – 25/6/92
Cresci achando que a melancolia
era o ponto sutil da beleza
e que no encontro
entre o triste e o solitário
havia um silêncio
que eu deveria chamar de paz.
Até que eu conheci a paz
numa pessoa
e não esqueci jamais.
Que por mim, foi dor,
solidão, pura melancolia.
Pra que Deus me visse,
E, com minha entrega, me dissesse:
Eu sou a paz!
Cresci sofrendo
e quão bela era a dor
de não ter um amor.
O sofrimento, em mim crescia,
Até que eu conheci a paz…
A verdadeira guerra
A verdadeira guerra
A VERDADEIRA GUERRA DE UM GRANDE GUERREIRO
João Inácio
Existem várias formas de se vencer uma guerra. Uma delas, é quando os guerreiros vão à luta sem sequer indagar se os que ficaram merecem o esforço e a loucura de suas partidas. E quando saem, choram por não saber se a ida é o caminho para um lugar em que não haverá volta. Quando guerreiros saem à luta, alimentam as dores daqueles que ficam e se alimentam dos sonhos daqueles que os enviam. Quando guerreiros vão a luta e vencem, no final da estrada, o que sobra é o sentimento de glória como estúpido triunfo de tantas vidas perdidas.
Um dia os guerreiros voltam. Olhos se estudam, bocas sorriem para os que voltam e para os que receberam alguns de volta. Mães adotam filhos daqueles que nunca viram e irmãos os abraçam forte como se os guerreiros tivessem sempre sido irmãos. De todo sacrifício feito, da dor do guerreiro na luta e da dor dos amigos que ficam, o que sobra é o sentimento de pátria, de irmandade, de união. Assim a história tem escrito sua rotina de guerras e nos ensinam que a guerra é necessária para que haja a paz. Tirar a vida do inimigo passa a ser necessário para que muitos tenham vida.
Mas existe uma outra forma de se vencer uma guerra. Está escrito que um dia um guerreiro foi a luta só, tão só como quem vive sozinho. Testemunhou com dores na carne, que a sua vitória era o esplendor do que muitos chamavam de pura derrota e que ironicamente era o preço a se pagar para chegar ao final da jornada. Lutou só, correu o risco de não ter outras mãos que o incentivassem, que lutassem por ele e com ele. Quando esse guerreiro foi à luta sozinho, no fundo, sabia que o preço da vitória seria a desilusão para muitos. Sabia que para muitos ele seria o oposto daquilo que muitos esperavam. Mas Ele lutou porque sabia que era muito além do que muitos buscavam. E, como um louco que resolve lutar e encarar a cara feia de sua loucura, um dia esse guerreiro foi a luta sozinho. Ele foi, porque cria que seus inimigos mereciam consideração, e foi por isso que ele os encarou sozinho. Tinha certeza que, para que houvesse sinceridade no relacionamento, seus inimigos tinham de ter o direito de não concordar com ele, de bater na sua cara e até de coroá-lo com os cravos profundos do espinho da alma humana. E, por isso, ele deu sangue e suor para que testemunhassem sua derrota nas mãos de muitos. Na verdade, Ele foi um em favor de todos.
Um dia esse guerreiro foi à luta sozinho. Por mim e por você, mostrou que obediência e santificação provocam violência para quem vive por um torto caminho, mas também provoca sons de harpas naqueles que vivem a vida além de um sonho. Um dia, por mim e por você, Jesus veio a guerra como um guerreiro sozinho. Se humilhou até a morte, e morte de cruz. Mostrou que Ele era o amor que tomava forma e que toma forma diariamente no coração daqueles que como guerreiros que vão para luta sozinhos, o aceitam em seu coração.
Amor de corpo inteiro
AMOR DE CORPO INTEIRO
João Inácio
É tão gostoso quando tuas mãos
tocam as minhas.
E, no namorar dos dedos,
nossas forças se unirem
para enfrentar o dia-a-dia,
reafirmando que aquele “mel da lua”
nem o tempo vai transformar.
É tão singelo quando tua pele
toca a minha.
E, no fluir do teu cheiro,
sentir o arrepio, o sussurro,
calando com força as dores
que alimentam as muitas agonias.
É verdadeiro
todo dia dizer: SIM!
Confirmar com gestos
a primeira alegria de dizer: SIM!
pra viver com você toda a vida,
enquanto Deus assim permitir!
É tão lindo
quando teus olhos
fitam os meus.
Quando teus lábios
beijam os meus.
E, no encontrar de risos,
sonhar acordado com tuas palavras
que me dizem: te amo!
Antídoto
ANTÍDOTO
João Inácio
Feita após visitar o Valter Jr. no Hospital
25/2/93, 00h14
Como doeu ver uma lágrima
saindo nos olhos do meu irmão.
Como senti por não poder dar
meus olhos pra ele.
Como sofri por não poder sanar
a dor que era farta no meu irmão.
Como desejei entender sua dor
pra talvez fazê-lo entender parte da minha.
Quão grande é o abismo entre
o desejar e o poder realizar .
Fica a certeza de que maior que a dor
é a esperança de viver sem dor
com aquele que viveu por mim e por meu irmão.
Como cresci vendo que em meio a dor
meu irmão cria que no depender de Deus
estava o bálsamo pra suportar o fel, o ardor.
Em mim, após tudo, restou entregar a Deus
minha fraqueza, meus desejos de cura,
para minha vida e para meu irmão.
Artista cristão
ARTISTA CRISTÃO
João Inácio
Depois da entrevista da Tânia Alves,
na TV Educativa. 04/7/80, às 20h14
Eu,
um ator doado
pela vida de outros.
Trago em mim
Olho e boca dos outros
vida inteira
assumindo os outros
sem mostrar o que sou.
Eu,
um cantor
cor e som
para vida de tantos
tons inteiros
resumindo em sons
sonhos e dor dos outros
peça inteira
de notações semi confusas
sem tocar naquele que sou.
Eu,
um Cristão
vida e amor nunca é pouco
Trago em mim
um Deus, um espírito
um futuro no presente
se dando em mim
para curar feridas de tantos.
Eu,
um Cristão
atordoador de corruptos
cantor de justiça e mudanças
sendo em Deus
um mais-que-perfeito
ator, cantor das coisas de Deus.
Artistas
Artistas
20/04/2010
João Inácio
Nunca entendi – e concordei –
que artistas devam ser loucos,
que artistas devam ser gênios.
Artistas devem ser
loucos, se assim o forem.
Gênios se assim o permitirem.
Mas artistas devem ser:
se poetas, fiel expressão da Palavra.
Se músicos, canção que acalanta a vida de muitos.
Se ator, voz daqueles que não sabem chorar.
Se artesãos, mãos que adornam a alma de quem sofre.
Artistas devem ser
o melhor da exmpressão do
seu ser…
na vida de tantos,
na alma de muitos.
Bicho-doido
BICHO-DOIDO
João Inácio
16.2.93
O que fazer se essa paz
já invade seu coração?
O que fazer se essa alegria
já tremelica suas pernas
e faz o teu olho chorar?
Bicho-doido,
Bicho-louco,
Bicho-Grilo,
Bichos de todas as tribos
dancem e cantem
porque no seu coração
o Rei Jesus chegou!!!
Como não pular,
se a tua vida já pulsa mais forte?
Como não cantar,
se a voz não se agüenta e bem forte
pro mundo, já quer se atirar?
Bonita
BONITA
João Inácio
A poesia se fez bonita
Pena que não foi pra mim.
Deixou no ar seu cheiro de pele.
Para os outros, não para mim.
Ela embelezou seus olhos
Mas, sorrateira, não veio sobre mim.
Cantou o que todo mundo pedia.
Mas, que pena, não cantou pra mim.
Do que valeu
ser tudo que todo mundo quis?
Do que valeu
se tudo pra o mundo
e nada para mim?
Até a lua
muda,
cala calada,
quando vê no sol
o brilho do seu eu.
Mas, que pena, sem mim
você não é a poesia que
pensou um dia ser.
Quebrada,
vive às quebradas,
longe de mim.
Mas, se você mudasse pra mim:
Eu desbravaria mundos.
Caçaria raios e
prismaria a luz na chuva.
Te traria as cores e as
moedas do fundo do pote,
quiçá o próprio arco-íris.
Só pra ver você
sorrindo pra mim.
Só pra ver você
canção em mim.
Mas você não quis…
Brilho de sol
BRILHO DE SOL
João Inácio
Sol no espaço nu
e cada braço é
uma ponta de orvalho em você.
Corpo, leito manso,
que me leva de mar, amar,
como estou em você
que me leva bem longe
e deságua no coração.
Te amo de norte a sul
e cada lágrima é
uma gota de orvalho em você.
Cristo que me ensina
pensa imensa no seu corpo
tem o meu papel.
Que eu sigo, que me leva
e deságua no coração
Caminhando na contra-mão
CAMINHANDO NA CONTRAMÃO
João Inácio – 16.2.93
caminhando contra,
sou a contramão.
Não estou perdido pois sou imortal.
Tenha a palavra, a santa direção,
Para meus passos neste “mundo animado”.
Mundo,
veja que é na contramão
Que este Rei Puro faz meu corpo sagrado
Faz minha vida ter uma mão-noutra-mão
Pra não viver como um cara assustado.
Jesus
É o sacro-profano
Pra esse teu mundo
“aberrante e sagrado”.
Jesus
Não é o puro engano
Daqueles que andam e
que querem viver ao seu lado.
Ele poderia ser o ouro
Ter o querer dado pelo ouro
Poderia não ser homem e
Ser bem mais que um animal.
Mas, escolheu você…
Canto prá quem tá longe
CANTO PRÁ QUEM TÁ LONGE
João Inácio – 11/12/89
O meu canto
tem que falar mil verdades
tem que mostrar toda ordem
uma luz em meio ao caos.
O meu canto
tem que mostrar o som do ego
pra que saibas que eu sinto
alegria e dor, como você.
O meu canto
tem que ser mais um elo
dos meus poucos amigos
uma chama melódica que
quebre distâncias e
aqueça amizades.
Não quero o meu canto vazio,
que só me faça olhar pra dentro.
Quero ouvir no irmão o aroma
das palavras dos atos de Deus
Com a garra de quem vai pra luta
e com o olhar de quem acaba de nascer.
Claro-escuro
CLARO-ESCURO
Netinho
Agora nada mais importa
Você é até capaz de me amar.
Entre uma cena sem graça
Beijos e abraços surgem.
Pouco importa
Se sou baixo,
Alto ou magro.
Você me sente,
Mas não me vê.
O filme acabou…
As luzes se acendem
E com ela chega a realidade.
Agora tudo importa.
Nossos problemas físicos
Tudo apaga.
Nesta cena não há graça.
No claro,
Somos duas pessoas
Opostas à aquelas
No escuro.
Construção harmônica
CONSTRUÇÃO HARMÔNICA
João Inácio
Depois de sair da casa do Brito/Gláucia e ficar
emocionado com o carinho deles para com o meu ministério
16/1/93, às 15h00.
Quem chora comigo recebe o direito de
ver também o meu choro.
Entra na minha casa como se fosse a rua
e usa minha vida como parte da sua.
Quem canta comigo vira o canto
do maior de todos meus sonhos.
Harmoniza minha vida como se fosse uma rosa
e tem minha vida para harmonizar a sua.
Meus filhos e meus amigos
foi a maior herança
que o Pai me deu.
Riqueza do amor que uni em versos
criação maior das mãos do meu pai.
Meus amigos e eu
uma história de amor.
Que chora pelo meu corpo,
só vê no chão minha morte
e quando por ele choram,
não vêem que no alto estou forte.
Mas quem chora comigo,
canta e vive comigo
anda seguro nas mão quem
eliminou de mim a morte.
Copacabana
COPABACANA
João Inácio
“vendo o filme Águia na Cabeça
24/3/91, às 23h22″
O homem do lixo
joga o bicho
no jogo do bicho
e o bicho é quem joga
o homem pra baixo.
Na boca do lixo
tem lixo de rico,
de doidos e pobres,
que vivem do lixo
do cheiro do lixo
do cheiro de pó.
Prá mudar,
só dando um leão na cabeça.
Que limpa,
que lava,
o homem do fluxo,
do lixo na boca,
das mãos na cabeça,
do desespero.
JESUS!
Na copabacana,
santos e vermes
se curtem à mesa do bar.
Se esfregam e se lavam no mar
como se o mar os lavasse.
Cuidado, povo santo!
CUIDADO, POVO SANTO !
João Inácio
19/03/02
Cuidado povo santo,
santo povo de Deus!
O lobo te alimenta
com grande falsidade,
com mentiras te ilude,
não importa qual a idade,
pra ele vale mais
um neném na mão
do que um vovô roncando.
Cuidado, povo santo!
Cuidado povo santo,
santo povo de Deus!
Ao som da dança ele te morde
com a beleza da ginga te abate
a solidão é o seu alarde
te faz acreditar
que é melhor viver no fundo
cuidado, povo santo!
Cuidado povo santo,
quando lobos dizem:
santo povo de Deus!
Sem exigir a essência
Pondo ao largo
o Santo do Santo dos Santos.
Sejamos todos santos
como o Santo de Deus.
Cuidado, povo santo!
Determinação
DETERMINAÇÃO
João Inácio
Ao amigo César Romeu Oliveira,
enquanto estava em frente ao prédio da ECT
17/3/89, 16h02
Meus pés pisam na areia da praia
E o mar, inconformado, apaga minhas pegadas.
incessantemente, bravamente.
Suas ondas vigiam noite e dia
quem andar sobre a praia
e jogam suas águas
por sobre ela
pra que Deus se mire
como num espelho de areia.
Existem momentos
em que é preciso bater em retirada.
E o mar se acalma.
Parece propor uma trégua aos homens.
Os pés dos homens ferem sua areia
e acreditam ter vencido.
Mas a determinação do mar
é forte!
O mar acredita
que Deus merece
se olhar num espelho de areia.
E o mar…
volta a apagar todas as pegadas
bravamente, incessantemente,
Eternamente.
Divagações
DIVAGAÇÕES
João Inácio
A culpa, uma laje,
peso tão grande.
Viver à margem,
o rio tão longe.
A vida,
o fio tão curto.
O riso,
o brilho mais puro.
O suor,
a canção do esforço.
Os olhos,
o abismo mais longe.
As mãos,
o gesto mais leve.
A dor, em mim,
o poço mais profundo
As lágrimas derramadas na terra
podem fazer diferença diante de Deus.
A dor por viver o amor, a dor pela terra,
pode fazer diferença diante do Pai.
O medo,
esse futuro inseguro.
O tempo,
esse leão do absurdo.
A morte,
a estupidez, o infortúnio.
Encontro
ENCONTRO
João Inácio
Quando a poesia e o poeta
se entristecem:
As rugas nas jovens ficam evidentes
As dores do mundo viram páginas.
A história, o futuro do passado,
viram desejo.
Até o som fica sem fôlego.
Até meu eu some dos outros.
Quando a poesia e o poeta
se encontram na alma:
Fonemas e o poema são o alarde.
A lua minguante até arde
vê-se cheia como a luz do sol.
Quando a canção e o cantor
se encontram:
A seca-vida vira arte
O galho seco vira música
A nota, o solo, nutre lágrimas
de alegria, de emoção, de amor.
Enquanto o Sr. Lobo não vem
ENQUANTO O Sr. LOBO NÃO VEM
João Inácio
Depois de ver a hipocrisia dos brasileiros
frente a chacina de Vigário Geral. 31/8/93, 12h10
Enquanto o Sr. lobo não vem,
você brinca de dizer
que o mundo é tão lindo
desde que seja da cor azul
que você tanto gosta.
Enquanto o Sr. Lobo não vem,
Você brinca de dizer
que no equilíbrio das forças
existe a perfeita harmonia.
Mas já que em você não há definição,
no fim do túnel, no final da estrada,
você se harmonizará com o vômito da boca
de quem você nunca esperou vômito.
Enquanto o Sr. lobo não vem,
Você faz orgias com o dinheiro alheio.
Sonha em chegar lá em cima,
só para ver que no divisor da linha do desespero,
os que estão abaixo são simples mortais.
E mente, sarcasticamente,
dizendo que quando chegar lá
tudo vai mudar.
Enquanto o Sr. lobo não vem
Você vive dando apenas prá receber
sem saber que no fim do túnel
alguém lhe dará o pior
porque a muitos você não deu nada
além do seu interesse.
Enquanto o Sr. lobo não vem,
Você, hipocritamente,
aprendeu a orar bonito e
fala como quem fala com Deus.
Fala sozinho como quem diz:
tudo posso com os bobos que me fortalecem!
Mas o que existe no céu da sua boca
é o seu doce veneno que, lá no fim do túnel,
mesmo sem querer, você vai provar.
Enquanto o Sr. lobo não vem,
você com medo do seu ranger,
vive como se o lobo nunca chegasse,
e de fato, ele nunca virá.
Pois não é dado o direito de chegar
a quem já vive lado a lado,
sem se deixar notar.
De fato, em vida o Sr. lobo nunca virá
porque no fim do túnel, no final da estrada,
o Cordeiro é quem vai triunfar.
E aí, para aqueles que creram,
haverá a alegria de ter sido filho de Cordeiro
e de viver com o Cordeiro.
Mas para aqueles que viveram
como quem diz: “enquanto o Sr. Lobo não vem”,
aí sim, o diabo chegará.
Ensaios
ENSAIOS
(pensamentos quase soltos)
João Inácio
Depois de observar a mudança drástica de uma pessoa próxima.
03/4/96, 20h59
Não existe lágrimas no roteiro do orgulho.
Agora sou o que você sempre quis
e você já não me quer mais.
Agora sou o fruto do que você foi um dia
e você insiste em me oferecer um novo fruto.
Nem toda árvore nos leva para vida.
Nem todo vento que vem do oriente
nos orienta para um santo lugar.
O melhor local de estar é nas mãos de Deus,
diz os muitos versos que tenho aprendido
O melhor local de estar é onde Deus manda,
diz o passado e os muitos versos que tenho escrito.
Se Deus mandou você para outro lugar,
porque se esqueceu de me mandar junto?
Eu iria.
Brincar de pique-esconde tem limites.
Uma hora até o vento se cansa
de buscar e não achar.
Ssó o amor de Deus tem o fôlego
que nem as águas podem calar.
É engraçado brigar sem saber o porque.
é engraçado saber que você quer provar
de um doce que não adocica nada.
Não existe doce do outro lado da rua.
Você atravessou, apesar dos apelos,
e o meleiro está sujando tudo..
Melancólica dor são os passos do crescimento.
Deus até parece brincar de se fazer oculto.
Pelo que se fez no passado é que aceitamos o presente.
Pelo que se fará no futuro é que não fugimos da raia
Vamos brincar de horizontes.
Brincar como você nunca quis brincar.
Vamos brincar de achar potes de ouro,
sabendo que ele não existe.
Acreditando que existe apenas o arco-íris.
Não insista em fugir de mim,
eu tenho medo de cansar de te buscar
Você me pede veneno e eu não dou.
Você então se mata com as próprias mãos.
Morrendo você me mata.
Até parece que você quer que eu também morra.
Os traços já estão chegando no rosto,
alguns ferem a pele bem fundo.
Como se lembrassem dos choros de muitas vezes
detalham os cantos da boca
e falam cada vez que a boca fala
e mesmo quando cala.
Por sorte, só a morte tira o brilho dos olhos.
Nem o ódio tira o brilho dos olhos.
Eles falam cada vez que os sonhos riem.
A natureza insiste em nos trazer cinzas
do pó ao pó, homens e árvores,
brincam de existir ao longo da história.
Ao relembrar as amarguras vividas,
a mente vem, aflora e pergunta:
porque viver em desamor?
Triste sina vinda de Adão.
Somos cegos e só vemos o buraco,
o fundo.
Esconde-esconde
ESCONDE-ESCONDE
Netinho
Debaixo do lençol:
Escondem-se políticos
Com dupla personalidade.
Vivem corpos:
Como o meu e o seu,
Se escondendo de pessoas
Com dupla personalidade;
Vivem adolescentes
Comendo figuras.
No escuro da noite:
Todos andam com medo
De ter dupla personalidade.
Por isso, nos escondemos
Do claro da verdade,
Como nossos corpos.
Debaixo do lençol.
Esperança
ESPERANÇA
João Inácio
26.6.92
Sabe, mundo,
teus homens se vestem de fortes,
No fundo, os falsos são fracos.
Porque nos sonhos, seus moinhos,
são seus castelos mais fortes.
Sabe, noite, teus beijos já não me trazem alegria
tuas luzes sequer resistem a luz do dia
e pensar que um dia em ti eu quis me esconder.
Sabe, vida, teus rios me invadiram em mágoas
teu sol me cortou fundo e forte
mas achei a saída nas mãos do Pai.
Sabe, Deus,
somente em Ti posso escapar da morte.
Contigo eu choro e é assim que eu
me torno mais forte.
É bom viver, lutar e sonhar,
estando nas mãos do Pai.
Falsos mestres
FALSOS MESTRES
João Inácio
19/04/07
“Os mestres do hoje sabem tudo,
falam sempre,
explicam o mundo,
odeiam tudo que não se cala diante de si”
Os falsos mestres não tem mestres.
Não ouvem que não são mestres.
Matam tudo o que não lhes é sonho.
Falam muito, de si para si,
Para serem vistos como mestres,
Buscando mostrar que afora suas leis
Não existem mestres.
Os falsos mestres falam para criar o hoje,
pois morrem de medo de não o serem amanhã.
Andam como quem pensa que no céu flutua,
mas o céu desses mestres
é o que dá sabor à sua língua.
Quem poderia calar a boca dos falsos mestres?
O silêncio da chuva após derrubar árvores?
O rugido do fogo fazendo de um monte, pó?
Bom seria caso fosse voz do Mestre-dos-mestres,
mas os falsos mestres não querem mestres.
Pois, pra eles, mestres com mestres não são mestres.
Mestres mestrados.
Falsos doutores e seus doutorados.
São espelhos tortos,
Cacimba rotas,
mares sem fundo,
quiçá ribeiros rasos.
Explicam e não se explicam
Sofismam tal qual o diabo.
Tolos sem mestres,
falsos mestres:
Calem-se fitos diante do simples.
Mirem-se fracos diante da morte.
Ajoelhem-se atônitos diante de Deus.
Pois Jesus, embora simples,
que era bem maior que qualquer
mestre-dos-mestres,
nunca usurpou ser Deus,
sequer ser visto como um mestre,
assim agiu o próprio Deus.
Tenho dito!
Fragmentos da dor no silêncio
FRAGAMENTOS DA DOR NO SILÊNCIO
“Pensando e orando quanto à situação do Zazo, 29/3/07, 18h47.”
João Inácio
Para todos
haverá de chegar a hora.
E quanto hora chegar…
Todos falarão muito
Tantos gritarão tontos
Tontos cantarão prantos
Prantos serão calados
Pelo som da morte que cala
Pelo céu da morte que cala alto
Pela mão da morte que encerra tudo
Pela morte que morre quando Deus fala.
Deus sempre é quem cala a morte
Deus sempre fala aos quatro cantos
Deus sempre canta o amor do filho
Deus sempre vence no poder do seu nome.
Mas quando chegar a hora…
Gente interior
GENTE DO INTERIOR
João Inácio
Eu faço e refaço
tento mostrar uma outra face
Tento refazer meu destino
como se o tempo fosse o ativo
que refaz tudo que eu quero ser.
Eu mando e desmando
me escondo dentro da minha voz forte
tento gritar mais que a minha dor
como se o grito calasse a dor e
o mundo tremesse ao ouvir minha voz.
Sou o falso do fraco abraço
um marca-passo que descansa no tempo
busco nos outros tudo que não tenho
e forço prá que todos ingiram tudo
do podre que tem dentro de mim.
Mas, quando olho pro alto,
nas mãos de Deus já não sou um fraco
N´Êle, minhas dores e belas amarguras
saram como se nunca existissem.
Em Deus me encontro e já não sou vida e morte
Me quebranto, me desnudo, e só assim eu sou
com um forte que será construído pelo Senhor.
Homens cordiais
Homens Cordiais
Homens Cordiais 12/01/2011
João Inácio
Somos homens cordiais. Destilamos ódio co risos nos lábios Afagamos com mãos de morte E no silêncio acalantamos nossa vaidade. Somos homens animais. Chamamos de amor Tudo que cultiva o ventre. Ainda com carne entre os dentes rimos como quem não mata E matamos como quem não sofre. Misericórdia, Senhor. A minha alma agonizante Aflige os outros para se livrar da dor. Misericórdia, Senhor. Minhas mãos veneram um anjo Que traz noite ao dia cantando a canção do rigor. Mesmo que minha vida condene Tudo aquilo que meu coração reprova, Ainda assim durmo em paz. Misericórdia, Senhor. Misericórdia, Senhor. Misericórdia, Senhor. Misericórdia, Senhor.
Horizonte
HORIZONTE
João Inácio
Depois de um papo com a Dra. Vanderli Teles
29/1/96 – 22h20
O horizonte é o lugar mais lindo do mundo.
Onde os guerreiros descansam
depois de alcansar seus sonhos
Onde o céu e a terra se encontram
pra falar das coisas de Deus
O horizonte é o lugar mais calmo do mundo.
Onde o sol liga a tomada
e acende sua luz e no final do dia
Onde o sol toma banho nas águas do mar
(Por isso que sempre se veem núvens no horizonte).
O horizonte é o lugar mais lindo do mundo.
Onde a tarde fica vermelha
e doura o pelo e as plumas das aves
Onde meus olhos miram
e me conduzem num eterno desejar
de alcansar e ultrapassar meus horizontes.
O horizonte é o lugar mais lindo do mundo.
De lá que “os que sonham”
olham todo caminho percorrido,
e entendem o porque
de existir tantos horizontes.
Pois é só de lá,
bem acima dos horizontes,
é que Deus nos espera para ver com Ele
como foi bom caminhar com Ele,
plenamente, na Sua direção.
Imagem
IMAGEM
João Inácio
Boston, EUA, 05/1992
Certa vez criei uma imagem
pus meu ser em volta dela
Carne e vontade era todo meu ser.
Mas, imagem não é coisa que se ame
não é coisa que se toque
ela vive acima dos montes
algo além de horizontes
não há amizade, não há relação.
Certa vez construí um castelo
planos e sonhos eram o adorno dele
Dom Quixote de imagens era
todo o meu ser.
Mas, imagem não é coisa que se ame
não é coisa que se toque
ela vive acima dos montes
algo além de horizontes
não há amizade, não há relação.
Laços de amor
LAÇOS DE AMOR
João Inácio
Poesia feita para Ranúzia,
em homenagem aos 10 anos de casados.
04/12/93, 00h07
Como em um laço de amor,
meu coração transborda de alegria
quando vejo que as mãos de Deus
delineou os seus olhos
assim como delineou a silhueta charmosa da lua,
como se fosse apenas para me encantar.
Como em um laço de amor
Meus sonhos deixam de ser fantasia.
Quando vejo nossos filhos crescendo,
carinhos singelos das mãos de Deus,
fazendo com que quatro sejam um,
como família, como pura harmonia.
Como em um laço de amor as dores cessam
e de Deus vema mais doce alegria.
Por que com “laços de amor”,
Deus laçou nossos caminhos
para que com cantos e risos
possamos viver como quem vive
com laços do Senhor do amor.
Lua nova
LUA NOVA
João Inácio
Feita depois de ver, da janela da Xerox, a lua nascendo.
Tinha em primeiro plano a silhueta do prédio da EMBRATEL
e o céu vermelho, por causa do por do sol.
21/6/93, 18h10
Lá vem ela, toda esguia,
até parece uma mulata
de camiseta branca e
deitada numa rede.
O sol fica vermelho de raiva
só por saber que ela
vai chegar, prá abafar.
E o que é o pior,
usando o brilho dele.
Lá vem ela, toda faceira,
A silhueta dos prédios
fica “quadradona”,
parece mais um caixote.
O poeta se rende aos
seus encantos e imagina
como seria dormir com ela.
La vem ela, lua cheirosa,
novinha como Deus fez,
pronta prá fazer outra noite de sonhos.
Eu bem mais forte que eu
EU BEM MAIS FORTE QUE EU
João Inácio
26/12/95 – 03h25
É mais forte que eu
a dor latente do som melancolia
é mais forte que eu
o sofrer, o sorrir do sofrer
é mais forte que eu
o honrar, o dizer e o fazer
é mais forte que eu
o sonho de querer
cantar mais e mais
é mais forte que eu
o gostar de brincar de sorrir
é mais forte que eu
o olhar da luz forte do olhar
é mais forte que eu
o mirar e se ver no mirar
é mais forte que eu
o esperar lá na cruz o fim da dor
é mais forte que eu
o sofrer por amar e servir
é mais forte que eu
o eu que chora lá dentro, sozinho
é mais forte que eu
o pecado que namora a poesia
é mais forte que eu
o pensar noutras formas de falar
é mais forte que eu
o chorar pelo filho doente
é mais forte que eu
o fingir de ser forte no amor
é mais forte que eu
o cantar feito um belo feio belo
é mais forte que eu
o invejar, o não poder ser eu
é mais forte que eu
a tristeza que vem
junto com o som
é mais forte que eu
o esperar que o cantar venha dela
é mais forte que eu
o tremer bem antes do sofrer
é mais forte que eu.
O se unir com o som do silêncio
é mais forte que eu
o fingir que a alegria cala o féu
é mais forte que eu
esperar que o céu tenha
o azul do céu
é mais forte que eu
o lembrar e sorrir por lembrar
é mais forte que eu
o gostar de ser seu sem ser eu
é mais forte que eu
o calar pra poder conviver
é mais forte que eu
o esperar e não cansar de esperar
é mais forte que eu
o resistir por ter pra onde correr
é mais forte que eu
as palavras que sei lá donde vem
são mais fortes que eu
o antever e querer reverter
é mais forte que eu
o escrever pra não ter que esquecer
é mais forte que eu
o pescar sem sequer ir no mar
é mais forte que eu
o fazer o que não quero
e não gosto
é mais forte que eu
viajar sem sair do lugar
é mais forte que eu
caminhar sem ter onde chegar
é mais forte que eu
só eu não sou mais forte que eu
e sabendo que tudo é mais
forte que eu,
só assim,
espero em Deus
ser eu mais forte que o eu.
Mar de esperança
MAR DE ESPERANÇA
João Inácio
21/11/08
Você me vem com seu mar de lamúrias
seu rancor me cativa para não ver o melhor.
Você me dá um alento como cortinas no quarto
mas sei que elas guardarão em mim o escuro da noite.
Porque ainda choras, minh´alma?
Deus nos ensinou que o amor vence a morte.
Sei que não foi agora, mas ainda há de ser.
Um passo atras pode ser uma horizonte à frente.
Uma pausa não é nada para quem busca crescer.
Bem sei, pois está escrito nas asas do tempo.
Conversamos por horas com as estátuas na praça.
Os tempos são outros e apenas elas ainda estão lá.
Muitos vêem em nossa face as marcas das lágrimas
Muito sofremos pelos planos ainda não realizados.
Somos como aves feridas com receio de voar.
Mas o caminho é longo, longo, e podemos ir bem além.
Porque ainda choras, minh´alma?
Deus nos ensinou que o amor vence a morte
Sei que não foi agora, mas ainda há de ser.
Um passo atras pode ser uma horizonte à frente.
Uma pausa não é nada para quem busca vencer.
Somos como aves feridas com receio do vento.
Mas o caminho é longo e podemos ir bem além.
Mendigo
MENDIGO
João Inácio
Depois de passar alguns minutos
após um acidente de carro no Eixão. 19h00, 28/9/93.
Um corpo sangrava no chão.
É interessante como na hora da morte
ver que as diferenças se igualam.
Contracheque pouco importa.
Comida e fome sequer importam.
Pobreza e prosperidade, pouco importam.
Homens e crianças gritavam como loucos
porque os loucos gritam quando não sabem
o quê fazer, nem como fazer, ante a face da morte?
Outros paravam por puro impulso.
Como se dissessem: é mendigo, é pobre,
mas morreu como tantos hão de morrer.
O passado do mendigo torna-se irrelevante
face a necessidade de tentar evitar
o que inevitavelmente acontecerá a muitos.
Minha família
MINHA FAMÍLIA
João Inácio
“Poesia feita em 03/3/92, um dia após o acampamento.
Depois que fiquei com Matheus e Lucas, vendo um fita de vídeo em que tinha o Shekiná e a “dupla”, pequenininha, brincando”.
Viver como um só,
o dia-a-dia,
relembrar a quatro,
o passado.
Ver Deus no outro
em todos atos.
No poder da cruz,
o perdão,
a união.
Ter no riso do outro a luz do amor
planejar cada sonho
como um só.
Se entregar a Deus
clamar por amor
Joelhos e mãos pro céu
é a nossa certeza
da eterna harmonia.
O amor estará sempre em
cada momento da nossa união.
A alegria virá sempre de Deus.
No amor dos amigos,
na alegria do Filho de Deus,
na harmonia dos filhos de Deus
e dos que Ele nos deu.
Monólogo do fundo d'alma
MONÓLOGO DO FUNDO D´ALMA
João Inácio
Preocupado com o situação dos mendigos e meninos de rua, frente ao frio que assola o país. 29/6/94, 08h13
Olha, moço,
o frio de junho chegou
e com ele veio a dor
que não vai embora com o sono.
Essa dor me lembra, a cada instante,
que eu ainda existo.
Ou será que apenas resisto?
Olha, moço,
na verdade um frio como esse
chegou desde que eu nasci.
Sei que sou feio e cheiro mal.
Sei que sou o retrato da miséria
e até que agrido seus olhos.
Mas no fundo, bem mais fundo
que você possa imaginar,
hoje já não me importa ser feio,
o frio chegou e só não quero
me sentir mais frio do que já sou.
Olha, moço,
sei que você diz
que eu preciso de Deus
pra aquecer meu coração,
Mas eu quero os dois.
Preciso de Deus como roupa
pra minha alma,
e panos, trapos, que sejam,
pra aquecer meu surrado corpo.
Olha, moço,
não sou e nem pareço com Deus.
Mas pelo amor d’Ele,
me aqueça um pouco nesse frio.
Basta um velho agasalho.
Pouco importa se vou parecer
um espantalho,
isso tenho sido desde que nasci.
Olha, moço,
não consigo entender o sonho dos poetas.
Dizem que ser livre ” é ter uma calça jeans,
rasgada e desbotada” e andar livre por aí.
Taí, eu tenho uma calça jeans,
rasgada e desbotada,
e até ando “livre por aí”.
Mas quando o frio chega, moço,
vejo que liberdade é poder ter
de onde sair e pra onde voltar.
É querer voltar, por que existe
alguém que queira que você volte.
E isso, certamente não tenho.
Moço, esse frio que dá no coração da gente,
nem cachaça consegue esquentar.
Olha moço, sei que você diz que
eu preciso de Deus pra aquecer meu coração.
Mas, além de conselhos, preciso de mais.
Preciso de panos, roupas,
que aqueçam esse velho corpo surrado, e
preciso de Deus como roupa
pra minha alma
e aqueça meu coração.
No jornal
NO JORNAL
João Inácio
09.11.89
Como é difícil ver graça e beleza
quando se para pra encarar a vida.
O que tem falado mais alto é o tiro
como me cala o teu grito
nele meu olhar fica aflito.
Qual a saída senão crer em Deus?
Qual a saída a não ser buscar de Deus
a esperança de dias futuros.
Na justiça do homem
o homem se esconde
naquilo que ele não pode calar:
Pecado, diabo bonito, morte,
por isso, sua saída é matar.
Qual a saída senão crer em Deus?
Qual a saída a não ser buscar de Deus
a esperança de dias futuros.
Qual a saída?
Onde posso te achar?
ONDE POSSO TE ACHAR?
João Inácio
Perdido de ti
Te busquei em mim
Falso total
Perdido de mim
Querendo que fosses meu.
Não porque era cômodo
Não porque assim seria medido
Mas porque era bom.
Onde posso te achar?
Busquei no olhar
Queria te ver
um pedaço de mim
Não porque sou bom
mas porque assim
com você, Jesus, em mim,
eu seria eu.
Um eu só
UM EU SÓ
Parte do roteiro do filme “8666”
16/01/10
Deus,
Sou eu.
Eu só.
Só sou eu.
Eu sou eu, Deus?
Só sou eu.
Serei eu um Deus?
Serei eu um Deus-só?
Um eu sem Deus,
Um eu só,
Só sou eu.
Deus,
Eu só.
Eu sem Deus.
Eu só.
Sem Deus.
Só sou eu.
Tribo do "Eu só"
Tribo do “Eu só”
João Inácio
Escrita durante a FTL, em 01/12/07, às 12h50
Deus,
porque vejo uma estrada,
no meio dela uma ponte,
e já estou do outro lado?
Deus,
Por mais que pareça,
não quero placas,
sirenes, estátuas,
apenas um sinal
que confirme o caminho.
Depois de tudo,
sei que muita gente passará.
Muitos irão e virão
sem notar que no chão da estrada
houve um poeta em suas mãos,
um facão e sua voz.
Mais que tudo peço,
mesmo que eu me sinta só,
não me deixe só
e que esse caminho seja seu.
To Zé
TO ZÉ
João Inácio
Para o querido amigo Joe Amado
De tão longe
ouço uma voz distante
e nem a distância
esfria o amor nos corações.
Mesmo tão longe
um amigo nunca estará longe
porque a amizade
começa antes de se vê a distância.
Quero viver em paz
como quem quer ser um irmão
quero no amigo
ter o direito de ser o
sim e o não.
Perto ou longe
se minha voz ecoa
num corpo distante
é o sinal de que a doisa vida se ilumina.
Teimosia convicta
TEIMOSIA CONVICTA
João Inácio
Esperando Samuel Vieira, no Hotel Internacional, Copacabana-RJ.
Escutando uma cantora no saguão do hotel. 25/8/93, 20h13.
Eu canto e os outros
só ouvem aquilo
que querem ouvir.
Por mais que eu cante
como tantos cantam,
se o som for verdade,
os ouvidos se torcem
e esperam que eu:
cante baixinho
algo que os desoriente.
Um som etéreo que os oriente
pra longe de Deus.
Eu canto.
Sou todo outro.
Canto tudo do pouco
que mudou em mim.
Todo meu canto
diz que sou da verdade.
Eu me mostro todo
e canto como quem diz:
meu corpo é a janela da
minha alma.
Mas eles querem
que eu cante baixinho
algo que os desoriente
um som etéreo que os oriente
pra longe de Deus.
Mas isso… eu não canto!
Tempo atemporal
TEMPO ATEMPORAL
João Inácio
Depois de escutar refazenda, do Gilberto Gil,
e ver um vendedor ambulante
em contraluz na entrada da quadra.
07.7.93 19:00 hs.
Tempo temporário
Se alimenta do erário,
Da Fadiga, do mormaço e
Da preguiça sem razão.
Tempo do operário
Do trabalho sem justiça
Que alimenta sem preguiça
A esperança, a solidão.
Aos pés de Deus
Sendo Kairós
por todo tempo
Aos pés de Deus
No topo do tempo
o tempo todo
Aos pés de Deus,
Eu estou!
No tempo há contraluz.
O homem fosco brilha negro.
O tempo é contra a luz.
Porque navega sem carregar ninguém
Sonho de um cristão brasileiro
SONHO DE UM CRISTÃO BRASILEIRO
João Inácio
Brasil verde e amarelo
Ouro Preto brilha, sim.
Nação, Olinda, amada,
com Pontas Negras
estão tuas rochas.
Guaranís perdidas
são tuas matas.
Aquarela em índio e branco,
não sofras minha mãe gentil.
Meu Brasil bem brasileiro
abra os olhos “pro luzeiro”
vai em frente, volta atrás,
reconhece que em pecado
tua beleza se desfaz.
Brasil teu Porto Seguro
estará na bíblia, sim.
Canções de vidas tão salvas.
Estarás em firmes rochas
sem “sacis” em tuas matas
haverá mais esperança
siga Cristo, meu Brasil…
Serás Brasil bem Brasileiro
sem corrupção, sem feiticeiros.
Firme nas promessas estarás
com o povo livre do pecado
tua beleza se refaz.
Segurança
SEGURANÇA
João Inácio
29.1.92 – 10h17
Fiz tudo diferente daquilo
que todos esperavam que eu fizesse.
Fui fundo com ardor nos olhos,
com tremor nos ossos e com aflição na alma.
Joguei tudo como quem joga um jogo
E, com desespero louco, se espera ganhar
sem ver o fundo do fundo.
Eu sabia que no fundo do poço
existia uma mão.
Eu não via, mas sabia,
que no fundo do poço existia um irmão,
um amigo, meu Deus, pronto a me segurar.
Relutei muito prá não fazer o
que devia fazer.
Sabia d’Ele cada estrada
que devia trilhar
E porque conheço Deus…
Eu sei que no poço
E, até, no fundo do poço,
existe uma mão.
Eu não vejo, mas sei
que no fundo do poço existe um irmão,
um amigo, meu Deus,
pronto a me segurar.
Rotina alheia
ROTINA ALHEIA
João Inácio
“Logo após ter visto uma matéria no Jornal Nacional,
sobre o desmoronamento de terra na Vila Morumbi, em São Paulo”
25/10/89
O olhar fixo flutua, parado, no espaço.
O que será que procura?
será não ter fome? uma mão?
talvez…
A sua dor já se mistura ao cansaço
e o suor tem o mesmo gosto da lágrima.
E só não diz : “vem, morte!”
por falta de coragem.
Vida, cotidiana vida.
São tantos os desdéns.
NÃO, eu grito NÃO!
Eu não quero um coração insensato.
Eu quero de Deus, ter fluindo das mãos
uma palavra, um ato,
pra quem queira existir
e parar de sofrer.
Culpar o acaso não vai fazer
sua dor parar de existir.
Nem vai fazer que eu sinta vergonha
de todo meu descaso.
Ritmamente
RITMAMENTE
João Inácio
Percussiva mente
o mundo canta diferente
e se ajoelha de repente
pro deus que lhe parecer melhor.
Displicentemente
o homem corre de esquente
corre, não vive, como um demente
suando, de mal a pior.
Ritmamente
Cristo é som da vida!
Eternamente
rumo forte da vida,
da história,
e o pulsar da vida
é Jesus!
Cretinamente
não queira peneirar o sol
pra apagar sua luz e viver
morbidamente
como um vil demente
que não semeia
nem deixa Deus florescer.
Rev. Adail
REV. ADAIL
João Inácio
Durante um sermão, 18/7/93, 20:05 hs.
São cabelos brancos,
dias vividos como pai.
Firmeza no choro e no riso
buscando unidade,
um barco, muitas diferenças.
Sua voz de veludo me fala
como quem fala
pro fundo da alma.
Como quem diz:
“podemos ser um”
Assim como Cristo foi com o Pai.
Vejo em suas mãos
a mão do filho
na mão do Pai.
E como meu Pai,
mostra que minha mão
na mão do irmão
vencem, com Cristo,
as agruras do mal.
Rapente
RAPENTE
João Inácio
Eu canto um rap
como quem canta um repente.
E o que é a fala,
pro “rap” e pro “repente”,
senão o alicerce
de sua história?
Eu falo falho
como quem fala e gagueja.
E o que é o ato falho?
senão a falta do alicerce
que segura a vida:
Eu canto e encanto
Os que querem pensar.
Eu canto o tanto
Pra que o desencanto
Possa possa ser pó
Poesia, poeira e sertão só
Outras terras do lado de lá
Posso voar
POSSO VOAR
João Inácio
Meditando nos Salmos 18 a 21
05/7/97 às 11:23 e no dia 21/7/97, às 20:50
Eu acredito na pessoa de Deus
Eu acredito no que o amor pode ser
Eu acredito no que Jesus fez por mim
Eu acredito no que o perdão pode fazer
Eu acredito naquilo que ainda há de vir
Pois em mim o início e o fim tudo é.
Vejo em você o que o perdão pode ser
Pois me aceitas e te aceitas como és.
Eu sei que posso voar
Nas mãos de Deus
Bem sei que posso voar
Nas asas do Espírito
Eu sei que vou flutuar
E irei além do que todos
Hão de esperar.
Com o Senhor eu salto muralhas
Com o Senhor eu pulo tragédias
Com o Senhor eu sou um vencedor
Voando livre como quem já foi perdoado.